Maria do Carmo inquieta-se. Cansaço. Muito. Viagens curtas e rápidas. Inspecções. Hospitais. Grupos de pessoas. Um agora, outro mais logo. Desgasta-se em conversas que lhe ferem os ouvidos e a boca enquanto se ausenta por dentro. Senta-se no escritório, cruza e descruza as pernas na leitura de um livro que nunca fora capaz de acabar. Olha, nervosamente, em volta. As chaves do carro estão ali. Só o conduziu uma vez. Potente, desportivo, veloz, muito veloz. Levanta-se de um salto, agarra as chaves e desce as escadas, duas a duas, até à garagem. (foda-se! esqueci-me dos documentos!) Volta atrás e procura a carteira. Corre de novo. Parece que o mundo lhe foge. As estradas lhe fogem. Os estofos de couro ainda cheiram a novo. Tem que pensar como fazer com as mudanças automáticas. Arranca um pouco aos soluços, vai avançando para a rua e, logo, em direcção à autoestrada. Começa a acelerar. Cento e quarenta é o habitual. Cento e sessenta. Cento e oitenta. Ah! Que se lixe! O pé pesa mais e mais, 220, marca o indicador de velocidade. Quer mais. Atinge os 240. Voa do lado esquerdo. Conhece bem o trajecto. Sabe que, lá à frente, há uma curva apertada. (e se?) Respira fundo e desacelera. (hoje, não!) Segue em condução rápida e desportiva, sentindo o roncar do motor. Em pouco tempo, estará em casa, a ler o livro que não terminou.
A Maria do Carmo decidiu de forma sensata. O livro pode ir sendo lido. Entretanto, hoje não, e amanhã também não, mas um dia a curva da má sorte será cruzada, mas enquanto não a é, Maria do Carmo terá ainda o prazer de ler os livros que bem entender.
ResponderEliminarAdorei o texto, senti a adrenalina na ponta dos dedos, e gostei muito.
Beijinho, Maria e não fugi, mas ando um nadinha arredia.
Certamente, lerá muitos mais livros. :)
EliminarBeijos, Sandra. :)
É sempre bom ter um livro
ResponderEliminarque ainda não se tenha lido
ou, se começado
ainda não se tenha acabado
a vida pode ser esse livro
e quanto a mim
ninguém tem o direito
de lhe antecipar o fim
Concordo, Rogério. Esta minha personagem, afinal, tem juízo. :)
EliminarBeijinhos. :)
Querida Maria Eu,
ResponderEliminarA urgência das estradas que fogem é um apelo voraz. Gostei muito.
(Mais algum tempo e estará em casa a receber a notificação da multa...)
Bom dia,
Outro Ente.
Será que havia radares? Há sempre hipótese de reclamação. Os radares são pouco fiáveis. :)
EliminarBeijos, Ente, e boa tarde. :)
Maria, de vez em quando, sinestesia e adrenalina merecem andar de mãos dadas, ouvindo a banda sonora de Pulp Fiction (a qual não me canso de ouvir). Cores, sabores, sons, cheiros, calor, frio e emoção a acelerar até aos 240…mas conscientemente.
ResponderEliminarA vida é assim, um pouco de loucura, ela é para ser vivida, não importa como…mas nunca nos esqueçamos, que o melhor da vida, é que ela é “nossa”!:)
Viver tem sempre uma componente de loucura, ou não é viver!
EliminarBeijos, Legionário, e aproveita bem a Semana Santa. :)
A potência, a velocidade e o inacabado, é sempre um bom destino.
ResponderEliminarBom dia, Maria Tu.
Atrai, não é verdade?
EliminarBoa tarde, JM, e um beijo. :)
Pé no travão quando se tem ainda um livro à mão :))
ResponderEliminarOra nem mais, GM! :)
EliminarBeijos. :)
You've got a fast car
ResponderEliminarI wanna ticket to anywhere
Maybe we can make a deal
Maybe together we can get somewhere
Any place is better
Starting from zero, got nothing to lose
Maybe we'll make something
Me, myself, I've got nothing to prove
Essa sra, canta muito! :)
EliminarBeijos, Uva. :)
Oh Lord, won't you buy me a Mercedes Benz ? My friends all drive Porsches...
ResponderEliminarE se estivesse a ler o Pessoa, ele mesmo e não um dos seus heterónimos, talvez o Liberdade? Que prazer ter um livro para ler e não fazer... ;-)
Ter um livro à espera é ter esperança.
EliminarBeijos, Tio. :)