Em Abril me fiz gente. Saí, a custo, do ventre de minha mãe, virada "do avesso". Mau sinal, dizem, pois que quem assim nasce está predestinado a ter mau feitio. Não era para ser mulher. Meu pai me queria homem e não foi com um sorriso na cara que me viu pela primeira vez. Cresci Maria mas brinquei muito à Manel. Trepei às árvores, rodei arcos, nadei no rio com câmaras de ar de pneus a fazer de bóias, arranquei grilos das suas tocas a fazer xixi lá para dentro, esfolei os joelhos em calções curtos. Cresci mulher quando os homens eram mais livres. Foi nos livros que descobri a liberdade, primeiro, foi em Abril que a liberdade passou por mim, depois. Visto a liberdade de vermelho, cor de sangue, cor de cravo.
Da Tua Vida
ResponderEliminarDa tua vida o que não podem entender
Nem oiro nem poder nem segurança
Mas a paixão do Tempo e de seus riscos
Tu buscaste o instante e a intensidade
E foste do combate e da mudança
Por isso um rastro de ruptura e de viagem
Ou talvez este fogo inconquistado
Como breve eternidade
De passagem
Manuel Alegre, in "Chegar Aqui"
Boa semana, Maria Abril Liberdade! :))
Sempre gostei muito da poesia do Manuel Alegre. Obrigada!
EliminarBeijos, Legionário, vermelhos. :)
Olá, Maria.
ResponderEliminarIsto é que é "viver e aprender", como diria a minha avó, porque eu, que também nasci a custo, pois que nem saí: tiraram-me! - não sabia que esse era sinal de mau feitio! tanta coisa, finalmente, vê-se explicada.
Brincou até não mais poder, que é como deve ser, independente de ser-se Maria ou Manel, que isso é que é justo, ainda mais para quem nasce no mês que se diz da liberdade ;)
Belo texto. Gostei.
bjn amg
Retrato de uma mulher que, qaundo menina, não cabia dentro de saias ou de sapatinhos de verniz.
EliminarBeijos, Carmem, e muito obrigada. :)
Fantástico este post!
ResponderEliminarParabéns, Maria, escreves bem pra caramba!
Beijinho
Muito obrigada, Ricardo, apesar do exagero. :)
EliminarBeijos. :)
Nasci em 1976. Fiz-me gente quando percebi Abril.
ResponderEliminarGrande recordação me trouxeste, Maria. Também eu nadava com as câmaras de ar.
E que grandes eram. Davam quase para 10!!!
Abril trouxe a muitos novos olhares.
EliminarVamos dar um mergulho? ;)
Beijos, Uvinha. :)
Também encontro a minha liberdade nos livros*
ResponderEliminarMundos abertos à nossa frente.
EliminarBeijos, Til. :)
Não há Liberdade
ResponderEliminarsó de mim
Procuremo-la, então.
EliminarBeijos, Puma. :)
Eu gosto de pessoas assim, viradas do avesso e com um coração grande :)
ResponderEliminarBelo texto Maria :)
Beijos
Olha que o avesso pode ser perturbador. :)
EliminarBeijos, I. :)
Nunca somos totalmente livres. Fazemos apenas o melhor que podemos para isso, quando nos deixam e onde nos deixam.
ResponderEliminarÉ uma questão de definir liberdade.
EliminarBeijos, Luísa. :)
Abril também passou por mim, era eu já gente à espera de liberdade :)
ResponderEliminarBonito Maria ;)
Eu também era gente, GM. Gente disposta a aprender a viver.
EliminarObrigada.
Beijos, GM. :)
Que belo auto-retrato
ResponderEliminar(o poema de Natália Correia é um adequado enquadramento... )
Muito obrigada, Rogério.
Eliminar(Natália é sempre adequada)
Beijos. :)
A liberadade é o maior acto de responsabilidade que conheço. Há pessoas que sabem ser livres e que sabem conceder liberdade. Não conheço muitas pessoas assim, mas tenho para mim que tu, Maria és um bom exemplo a dar :)
ResponderEliminarDeixo um beijo com muita estima.
Gostaria muito de ser como os teus "olhos" me vêem.
EliminarMuito obrigada.
Beijos, Sandra. :)
Excelente texto! Mas só há liberdade a sério...
ResponderEliminar...quando houver, a Paz, o Pão, a Habitação, Saúde, Educação...
Eliminar(obrigada)
Beijos, Carlos. :)
É melhor ter mau feitio do que feitio nenhum.
ResponderEliminarFiquei encantado com a personagem descrita, pois entendo, mulher plena é a "mulher d'armas", tem de saber assobiar, trepar e "fazer trinta por uma linha". Só essa estirpe alcança a plenitude da liberdade.
"A Liberdade está a passar por aqui", Maria.
Temos que dar uma mão a essa Liberdade, enquanto a podemos agarrar!
Eliminar(obrigada)
Beijos, Agostinho. :)