"(...) Dona Luarmina. Nunca ninguém foi tão vizinho. Porque ela quando não me está nas vistas está-me nos sonhos. Sempre e sempre essa polposa e carnudona mulher.(...) Em tempos, ela acendeu prontidões masculinas. Mas agora, está apagada. Não para mim que me acendo em sua presença e ardo em sua ausência.
Ao fim de cada tarde, me encaminho para sua casa. Engraçado, o seu lugarzinho: só tem traseiras. Quase como a Dona. Porque a gente para o contornar nem tem que dar a volta. Chega-se lá e estamos logo atrás. Sento-me num velho tronco e fico olhando a mulher desfolhando~se:
- Mar me quer...
Depois digo para mim: quem dera eu meter a mão nos remetentes dela! Uma dessas noites, até sonhei que me aproximava do assento dela e lhe desenrolava falas (...)
Enquanto falava já minha mão viajava naquelas gorduras vivas dela, comboiozinho doido ondulando pelas topografias do seu assento. Eu andava de bicos de mãos pelas reentrâncias dela."
Mia Couto, in Mar me quer
(Christos Tsimaris)
Luarmina sabia que acendia a prontidão do rapaz. Sentada na varanda, vestido vermelho, decotado, curto, a deixar as coxas grossas ao sol, ela sabia... Fingia ignorá-lo enquanto desfolhava flores, tão vermelhas como o seu vestido, deixando o ar perfumado e o chão atapetado para se deitarem juntos, nos sonhos.
Maria Eu
(Christos Tsimaris)
Luarmina sabia que acendia a prontidão do rapaz. Sentada na varanda, vestido vermelho, decotado, curto, a deixar as coxas grossas ao sol, ela sabia... Fingia ignorá-lo enquanto desfolhava flores, tão vermelhas como o seu vestido, deixando o ar perfumado e o chão atapetado para se deitarem juntos, nos sonhos.
Maria Eu
Gosto do Mia Couto e de quase tudo o que ele escreve...também disto e da simplicidade com que ele descreve as pessoas.
ResponderEliminarBeijinho
Eu também gosto muito. Simplicidade na escrita, profundidade no significado.
EliminarBeijinhos Marianos, JP! :)
Luarmina sábia
ResponderEliminarsó não sabia palavras
mas falava por gestos
E o gesto é tão importante!
EliminarBeijinhos Marianos! :)
Andar de bicos de mãos: deliciosa metáfora, inesquecível imagem.
ResponderEliminarBoa noite, Maria :)
De um requinte incrível! E depois digam que é simples, a escrita de Mia Couto...
EliminarBeijinhos Marianos, Xil!
Mia Couto é meu irmão!
ResponderEliminarÉ um escritor fantástico!
EliminarBeijinhos Marianos, Rogério! :)
Luarmina - é um nome bonito! Bom para uma rapariga esperta...
ResponderEliminarBj*
Tem o luar nele!
EliminarBeijinhos Marianos, Tétisq!
PS: Bom ver-te de volta! :))
Adoro e revejo-me em muita coisa de Mia Couto. (uma descoberta recente)
ResponderEliminarÉ maravilhosa, a sua escrita. Leste Ondjaki? Outro africano que vale a pena!
EliminarBeijinhos Marianos e obrigada pela visita! :)
Mia Couto e a sua obra ““Mar me quer” narra uma história lindíssima de um amor nunca perceptível ao primeiro assimilar – mesmo que pensemos que sim. Uma história inspirada no mar e na sabedoria dos mais velhos, no sonho e na imaginação.Mia Couto consegue, com a sua escrita criativa, cativar-nos para esta história encantadora de uma maneira singular, prendendo-nos à leitura do princípio ao fim do livro.
ResponderEliminarTalvez a sua história mais comovente. De uma simplicidade sofisticada!
EliminarBeijinhos Marianos, Legionário! :)