(imagem daqui)
Olhou as mãos como se nunca as tivesse visto antes. Esticavam-se, dedos cerrados ao redor das asas dos sacos de plástico (recicláveis, claro), numa tensão visível pelos nós dos dedos salientes e pelas marcas avermelhadas que se iam afundando no peso. Viam-se, ainda assim, rugas a cruzarem as veias azuis que corriam, salientes, como pequenos rios, levando vida até ao mar do coração.
Há muito que não se dava conta do passar do tempo. Desviou o olhar como que a regressar à imagem das suas mãos lisas, estrelando os mesmos anéis, sempre em voos picados a acompanharem as palavras, ou em gestos de ternura
(Ólafur Arnalds - Happiness doesn't wait)