domingo, dezembro 31, 2017

E 2018 aqui tão perto!

Em louvor das crianças

 "(...)
   Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
   A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
(...)"

 Eugénio de Andrade, in Rosto Precário (Limiar, 1979, Assírio  Alvim, 2015)




Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.

(Carlos Drummond de Andrade)

(Gustav Klimt - A árvore da vida)

Desejo-vos que tenham o peito aberto às maravilhas do mundo, sendo sempre capazes desse mistério maior que é o Amor!

quarta-feira, dezembro 27, 2017

Sweet Amélia

(“Tales of The Unexpected” for UK Vogue December 2008 photographed by Tim Walker)



Caem pétalas de malmequeres
Despindo a flor até ao cálice
nos sonhos brancos de Amélia
Bem-me-quer, mal me quer, …

Sopra Éolo, de Barlavento
Levando-as, penas de gaivota
Corrupio alvo no azul do mar
Bem-me-quer, mal me quer…

Lengalenga com nome de flor
Bate ritmado o coração de Amélia
Despe-se de pétalas, cálice do amor
Oferenda ardente de bem querer


sexta-feira, dezembro 22, 2017

Natal



E, de repente, a árvore fez-se de Natal. O portão verde abriu-se aos que vinham de outras terras e de outros Natais. Com eles, dedos pequeninos a segurarem o espanto de pouca vida em forma de brinquedo. A árvore, orgulhosamente ornamentada de frutos adocicados, verga-se do peso destes. Ou será que sabe da pequenez dos meninos e quer deixar-se tocar, mimada?

FELIZ NATAL!


domingo, dezembro 17, 2017

Intimidade



Dedos
Breves como asas
Afloram
A sede carmesim

Corpos
Urgentes como voos
Rasgam
A fome púrpura


segunda-feira, dezembro 04, 2017

Palavras, raras...

Detalhe do "Retrato de Maria Trip" - Rembrandt  (Daqui)


Procurava as palavras como se fossem pérolas. Tomava fôlego, mergulhava em profundidade nas águas cálidas, e deixava-se ir, numa busca urgente, até que a asfixia a tomasse, empurrando-a para a superfície. Sabia das notícias que davam conta da escassez de palavras-pérola. Vieram outros pescadores!, diziam.  Ainda assim, continuaria a mergulhar. Ainda assim, encontrá-las-ia...