terça-feira, novembro 26, 2013

Boca

Como poderemos beijar essa boca que apenas se anuncia
com a suave tristeza de quem ainda ama as sílabas do sangue
ou a lua cálida das velas?
Essa boca talvez seja apenas uma boca de sombra
e quase uma boca de cal
mas a sua forma ainda é uma margem estremecida
uma erva que respira
sobre a pedra azul da melancolia
Que palavra poderá dar um espaço à sua sede
como uma guitarra que lentamente se acende na noite?
Mas no peito frágil como um pássaro palpita ainda um astro
vibrante como uma haste inclinada pelo vento
Ela acaricia a sua crisálida de areia
como se fosse o corpo amante ou uma palavra preciosa
Não posso desenhar o movimento do seu coração
nem encontrar a palavra que fosse um beijo vacilante mas
                      
O meu pulso no entanto estremece com o rumor de um sangue que desejaria ser a luz da sua sede

António Ramos Rosa, in «As Palavras», Campo das Letras, 2001






O que tem essa boca que só a quero ter na minha boca?

8 comentários:

  1. "Essa boca talvez seja apenas uma boca de sombra
    e quase uma boca de cal
    mas a sua forma ainda é uma margem estremecida
    uma erva que respira
    sobre a pedra azul da melancolia"

    O que tem a minha boca que só a quero ter nessa boca?

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    Respostas
    1. Há bocas que foram feitas para estarem noutras bocas.

      Beijinhos Marianos, Rogério! :)

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  2. Fechei os olhos para não te ver
    e a minha boca para não dizer...
    E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
    e da minha boca fechada nasceram sussurros
    e palavras mudas que te dediquei...

    O amor é quando a gente mora um no outro.

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  3. Lindo, não é? :)

    Beijinhos Marianos, Eu sou Eu! :)

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