quarta-feira, agosto 22, 2018

segunda-feira, agosto 20, 2018

A visão do Luís

Sonhou que tinha raízes. Saiu para andar descalça na terra.


Sonhou que se consumia em chamas. Debulhou-se em lágrimas até apagá-las.




Às vezes, a blogosfera traz-nos boas surpresas. O Luís leu os meus "modos férias" e deu-lhes a arte do desenho. Tão bonito!


sexta-feira, agosto 17, 2018

A menina de seu pai



Nasceu mulher para desgosto de seu pai, que queria um homem.
"- Que feia!" Observara, sem cuidar dos olhos húmidos da parturiente, cansados das horas de dor e ânsia, mas já apaixonados pela criatura vermelhusca e enrugada que se agitava, num vagido fraco, ao seu lado.
Cedo começou a fugir das bonecas e das loiças de porcelana. Fazia das árvores poiso habitual, dos muros escadas e dos campos pistas de corrida.
Ao final do dia, entrava em casa pé ante pé, tentando esconder os joelhos esfolados e os rasgões na roupa.
O pai, há muito que mantinha um brilho no olhar quando o repousava nela, cúmplice nas desculpas para as escapadelas de maria-rapaz.
Foi crescendo, assim, menina de seu pai.

Desnascia, tantos anos depois. Ouvia-lhe a voz, à sua menina, mas a dele não saía da garganta frágil e os olhos teimavam em não se abrir.
Sabia que chorava pelo tom inseguro com que lhe dizia:
"- Estou aqui, pai! Sou eu, a sua menina! Já pode partir!"




quinta-feira, agosto 16, 2018

segunda-feira, agosto 13, 2018

segunda-feira, agosto 06, 2018

Modo férias I



(anne-laure djaballah)

Sê parca nas palavras.
Podes, no entanto, escolher um punhado delas para não desaprenderes o ofício da escrita.

Liberdade

(Mahi Chafik)

Desde menina que lhe diziam como devia fazer para manter a compostura de uma verdadeira senhora: gestos suaves; voz modulada e baixa; saia puxada para os joelhos, bem juntos, a encimar as pernas ligeiramente inclinadas quando sentada; cabelo alinhado; apertos de mão nem muito firmes nem muito lassos; conversas sem discordâncias abertas e muito menos provocações para debates acesos...
Levou anos assim, discreta, até que descobriu que não queria ser uma verdadeira senhora e, num dia de sol, se descalçou, sandálias nas mãos, cabelo ao vento, numa conversa recheada de gargalhadas e palavras que se atropelavam, deixando traços erráticos na areia molhada da praia a par dos de outro par de pés, igualmente descalços.