segunda-feira, março 31, 2025

A primeira dor

(imagem daqui)

Teria à volta de cinco anos quando experimentou a dor. À época, não sabia o que significava aquele aperto no peito a subir aos olhos e a transformar-se em lágrimas.

Doíam-lhe os ouvidos da notícia.  A Lina morreu. 

Como assim, morreu? Ainda ontem brincara com ela às cozinheiras, a amassar bolinhos e a fazer sumo de maçã! E morrer era para sempre? Ora, devia ser uma doença qualquer, essa tal de morte!


Só aquando da ausência permanente entendeu...



(E. Grieg: Elegie (Elegy), Op. 47 no. 7)

quarta-feira, março 26, 2025

Era uma vez um rapaz

 

(imagem daqui)


Era uma vez um rapaz. E o rapaz crescera a olhos vistos, correndo contra o vento, num afã de viver as aventuras de piratas por mares nunca dantes navegados. Fazia da praia esconderijo de tesouros, desde paus em cruz (espadas afiadas nas lutas), até pedaços coloridos de vidro (joias magníficas que refulgiam à luz do sol).

Dizia que, certa vez, uma sereia viera ao seu encontro, encantada pelo brilho dessas joias e, quando lhas ofereceu, o beijou intensamente, logo desaparecendo nas ondas do mar.

Já homem, sem saber porquê, havia sempre pedaços de vidro, à mistura com conchas, nos bolsos dos seus casacos.



(Jack Garratt - Breathe Life)