Era sempre à sexta feira. Joana saía de
casa ainda a aldeia toda dormia, vestida com roupas coloridas e cabelo
primorosamente penteado em caracóis que lhe emolduravam o rosto precocemente
envelhecido.
Foi num desses dias que a vizinha do
lado, acometida de uma falta de ar insuportável, assomou à janela e a viu,
assim arranjada, em passo apressado. Estranhou-lhe o preparo e, sem pudor, logo
segredava com as mulheres que lhe faziam companhia no café da manhã o colorido
do figurino de Joana e a hora deveras matinal a que saíra. De imediato se
levantaram as mais variadas hipóteses. Teria ela um namorado secreto? Iria a
algum evento na vila mais próxima?
Escusado será dizer que, a partir daí,
os olhares curiosos começaram a ocupar as janelas bem cedo, por detrás das
cortinas brancas, num concurso de espionagem, para ver quem mais rapidamente
descobria o destino de Joana.
Era sempre à sexta feira. Joana arranjava-se
como nos tempos de adolescente. Sentia-se um pouco ridícula, por isso saía bem
cedo. Por outro lado, assomava-lhe um sorriso ao rosto enrugado pensando na
alegria da mãe quando a visse chegar ao lar. Sabia que era assim que ela a recordava
e reconhecia.