quinta-feira, outubro 31, 2013

Presente eternizado

Conjugaram o verbo amar no presente do indicativo.
 
  

























 (Graça Morais)



Quando chegou a vez do futuro, descobriram que tinha sido eliminado.



(Kazimir Malevich)

quarta-feira, outubro 30, 2013

A Cezariny, nada a acrescentar

     (Razzle Dazzle Red, Sarah Willett, UK)
como a vida sem caderneta

Como a vida sem caderneta
como a folha lisa da janela
como a cadela violeta
- ou a violenta cadela?
Como o estar egíocio emudado
no salão do navio de espelhos
como o nunca ter embarcado
ou só ter embarcado com velhos
Como ter-te procurado tanto
que haja qualquer coisa quebrada
como percorrer uma estrada
com memórias a cada canto
Como os lábios prendem o copo
como o copo prende a tua mão
como se o nosso louco amor louco
estivesse cheio de razão
E como se a vida fosse o foco
de um baço, lento projector
e nós dois ainda fôssemos de cor
Um ao outro nos fôssemos pouco
meu amor meu amor meu amor


Mário Cerariny de Vasconcelos

Dorme, dorme - Um pouco de sarcasmo por dia, nem sabe o bem que lhe fazia!


Dorme, dorme, meu menino, que a mãezinha logo vem 
A Capuchinho já foi, mais por mal do que por bem 
Acabou a comer doces, na cama com o Lobão 
Enroladinhos na capa, em rugidos de Leão 

Dorme, dorme, meu menino, não temas a noite escura 
O caçador vê na noite e até usa uma armadura 
Vai matar o Lobo Mau que toda a noite uivou 
E não foi com a avózinha que ele se lambuzou 



















    (Olivier Chapellele, chaperon poursuivie par le loup)

terça-feira, outubro 29, 2013

Et maintenant

Sans toi, je ne sais pas quoi faire. Sans toi, je suis comme un oiseau sans ailles...



Et maintenant

Et maintenant que vais-je faire
De tout ce temps que sera ma vie
De tous ces gens qui m'indiffèrent
Maintenant que tu es partie
Toutes ces nuits, pourquoi pour qui
Et ce matin qui revient pour rien
Ce cœur qui bat, pour qui, pourquoi
Qui bat trop fort, trop fort
Et maintenant que vais-je faire
Vers quel néant glissera ma vie
Tu m'as laissé la terre entière
Mais la terre sans toi c'est petit
Vous, mes amis, soyez gentils
Vous savez bien que l'on n'y peut rien
Même Paris crève d'ennui
Toutes ses rues me tuent
Et maintenant que vais-je faire
Je vais en rire pour ne plus pleurer
Je vais brûler des nuits entières
Au matin je te haïrai
Et puis un soir dans mon miroir
Je verrai bien la fin du chemin
Pas une fleur et pas de pleurs
Au moment de l'adieu
Je n'ai vraiment plus rien à faire
Je n'ai vraiment plus rien ...

Espelho

"-Eu existo!" afirmou ela.
"-Existes? Tens a certeza?" perguntou ele.

     (Roy Lichtenstein. "Paintings: Mirror")

Ela dirigiu-se a um espelho. Viu apenas o reflexo da luz que entrava pela janela.

Deixa-me ficar

Casa
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.



David Mourão Ferreira
Infinito Pessoal
 
 
  (Gustav Klimt, The Kiss for the World)
 
Os teus lábios emanam luz, 
tingida de vermelho, 
sempre adornada de palavras.
 
Nela mergulhei uma e outra vez, 
ávida de claridade, 
no íntimo desejo de nunca mais voltar. 
 
Maria, Eu 
 
 

segunda-feira, outubro 28, 2013

Saudade



        (Saudade, Pindaro Castelo Branco)

Há um ruido surdo,
Um eco repetido.
Há uma dor funda,
Um espinho cravado.

Como se mata a saudade?

domingo, outubro 27, 2013

Obediência

                    


































 (Helene Knoop)

"- Dispara! Mata-me!" pediu ele, com um sorriso trocista.
E ela, obediente, disparou.


Always on the wild side


Rouco, sensual, tenso, ávido, a viver no fio da navalha. 
May you always walk on the wild side!

Para adultos - Descoberta

"Estamos os dois sentados num canapé de palhinha. Enquanto a Umbelina me fazia furtivas festas sobre as calças, a berguilha e mais para a esquerda, eu percebia que o caralho se ia desenroscando, desenvolvendo em brandas pulsações rítmicas, agitadas, em movimentos autónomos, preenchendo o côncavo das cuecas e transmitindo-lhe uma frenética actividade. Não sei porque ela, a Umbelina ou a mão? as mãos são órgãos inteligentes, voluntariosos, sábias, ela não descobria o membro, era tão fácil, bastava desabotoar duas ou três casas, abrir caminho, dar-lhe liberdade."
Luís Pacheco, in "O Teodolito"
         (Cecily Brown)

Estou sentada ao lado do menino no canapé. Senti que devia mostrar-lhe os prazeres da carne. Um adolescente é um adolescente e umas festas sobre as calças não hão-de ser coisa pouca para ele. Sinto-o a reagir. O sangue flui-lhe ao sexo como às faces, que coram, fazendo-o enrijecer a cada movimento dos meus dedos. Talvez pudesse desabotoar dois botões ou três, deixar que as minhas mãos toquem a pele retesada e libertá-lo.
Maria, Eu

sábado, outubro 26, 2013

Divagações

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <<Fui eu?>>
Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa
 



Onde me encontro? Ali, na rua, caminhado sem olhar o céu? Sentada nas Portas de Bradenburgo, em sussurros de inquietude? Ou em lugar nenhum?

sexta-feira, outubro 25, 2013

Da fuga para a morte

Fujo à morte no Continente que me viu nascer, para morrer no mar de um Continente que me não quer.


Lampedusa, Itália, ano de 2013

Réplica


                   (Helena Knoop))

- "Diz-me que me amas, por favor!" pediu ele.
- "Amas-me? Por favor!"perguntou ela.

quinta-feira, outubro 24, 2013

Amor

Amor amado

Assim como os poentes
São rubros e as rosas,
Tão vivo é o meu amor por ti.
Com essa força atravesso
Todas as tempestades
E descubro em cada momento
A fonte da alegria.
No silêncio repito
O teu nome como um bálsamo
E sei que tu o meu repetes
como um apelo.
E o apelo não é vão
Pois com ele me dás as estradas
E os atalhos para chegar a ti.
Ao teu encontro vou
Com as rosas de Maio
Com as cerejas de Junho
Com as uvas de Setembro
E cada mês me dá para te levar
a sua novidade
Pois o amor faz novas todas as coisas.
Quando te não vejo vejo-te em todo o lado
E oiço-te em todas as vozes
Tu que és a única voz.
Em ti me refaço e me transformo
E fluo para ti como um grande rio
Na certeza de ti, que és o meu (a)mar. 


 Maria Teresa Dias Furtado

                                  (Amantes - João Werner)

Todos os (meus) atalhos levam a ti.
Todos os (meus) riachos desaguam no teu rio.  

quarta-feira, outubro 23, 2013

Declaração tradicional


"Dobra o canto direito!" segredou-lhe.

Tacto



                       (Amadeo de Souza-Cardoso)

Deixou os dedos deslizar pelos mais íntimos recantos do seu corpo mas o corpo esta ausente.
Descobriu, então, que não tinha tacto ou sensibilidade nervosa. Podia ver, ouvir, cheirar, saborear, mas o toque nada lhe dizia.

terça-feira, outubro 22, 2013

Promessas

 
 (Abbot Handerson Thayer)

Onde estão as asas que me prometeram? 
Onde, os voos em loop
Onde, os desenhos traçados a fumo no céu azul?

 

Perguntas

"Quantas vezes pensas em mim, a cada dia?" perguntou-lhe ele.
"De quantas vezes é feito cada dia?" replicou ela.

      (Jonathan Leder)

segunda-feira, outubro 21, 2013

Acrescente-se tempo ao tempo

Queime-se o fundo do mar! Incendeiem-se as ondas! Acrescente-se mais tarde às tardes e noite às noites! As manhãs? As manhãs ficam ali, no final da noite, a rasar o início da tarde...

      (Cruzeiro Seixas)

Ao que encontrei tanto e tanto
acrescentei.

Recordo essas horas esses dias.

Tudo o que era morto ressuscitava
os animais encontravam-se
e altos monumentos brancos cresciam em cada praça.



O nosso sangue circulava livre nas montanhas e no mar
e os músculos erguiam árvores
que nos cobriam com a sua ilimitada confiança.

Nós todos éramos dois.

Um dia queimamos o fundo do mar
e o incêndio alastrou às vagas absurdas
ao sangue misterioso.

Estavas pálido como a água
jamais alguém empalideceu assim.

Que horas eram meu amor distante?

Ao que encontrei tanto acrescentei
nesta tarde exageradamente tranquila.


Cruzeiro Seixas

domingo, outubro 20, 2013

Viagem interior

       (The Chair, Menoevil Photography)

Via-se-lhe o mar à transparência da pele. Tinha levado uma cadeira, para que, se ele viesse, pudesse sentar-se e viajar pelo seu mar adentro.

Disfarce

          (Untitled by Juan Crisóstomo Mendez Ávalos, 1920-1936)

Misturava-se com os livros de poesia, na esperança de que a lessem tal como se fosse um poema.

sábado, outubro 19, 2013

Meu amor

Primeiro foram os dedos. Firmes, insistentes, a segurar-me o rosto. Depois foi o olhar, profundo, líquido, a entrar no meu. E logo a boca, colada à minha boca. O corpo ardendo de encontro ao meu.
Meu amor. Meu amor. Como me sabes de cor, ainda que no meio da urgência...

Bang Bang
















 







  (Trees - I was shot by Billy Kidd)

Recebeu o tiro em cheio no peito e caiu, em câmara lenta, como uma folha levada pelo vento em pleno Outono.


sexta-feira, outubro 18, 2013

Romeu e Julieta

cf. SHAKESPEARE. Romeo and Juliet. ill. V. 1-36

A cotovia é
um rouxinol ainda 
 
Os ouvidos não ouvem essa
ave que divide
e a luz que conduz a mântua não canta

Esse canto alterado
como um simples acidente da boca
era um som diferente nos teus mudos
ouvidos
da tão ameaçada madrugada

A tua boca ouve
a noite nessa ave
porém é na manhã que se transforma noutro
o canto que escurece como a luz a dor pouco
antes entre outro canto fugitiva

Vejo-te contra a pele como se não pudesse
ocultar-te de todo o movimento
dum incêndio
e a cotovia exprime
impede a tua perda


Gastão Cruz
 
(Ford Madox Brown, Romeu e Julieta)
      
 (...) 

           JULIET
Wilt thou be gone? it is not yet near day:
It was the nightingale, and not the lark,
That pierced the fearful hollow of thine ear;
Nightly she sings on yon pomegranate-tree:
Believe me, love, it was the nightingale.
      ROMEO
It was the lark, the herald of the morn,
No nightingale. Look, love, what envious streaks
Do lace the severing clouds in yonder east.
Night's candles are burnt out, and jocund day
Stands tiptoe on the misty mountain tops.
I must be gone and live, or stay and die.
      JULIET
Yon light is not daylight, I know it, I:
It is some meteor that the sun exhal'd,
To be to thee this night a torch-bearer,
Therefore stay yet; thou need'st not to be gone.
      ROMEO
Let me be ta'en, let me be put to death;
I am content, so thou wilt have it so.
I'll say yon grey is not the morning's eye,
'Tis but the pale reflex of Cynthia's brow;
Nor that is not the lark, whose notes do beat
The vaulty heaven so high above our heads.
I have more care to stay than will to go:
Come, death, and welcome! Juliet wills it so.
How is't, my soul? let's talk; it is not day.
      JULIET
It is, it is: hie hence, be gone, away!
It is the lark that sings so out of tune,
Straining harsh discords and unpleasing sharps.
Some say the lark makes sweet division;
This doth not so, for she divideth us.
Some say the lark and loathed toad change eyes,
O, now I would they had changed voices too!
Since arm from arm that voice doth us affray,
Hunting thee hence with hunt's-up to the day.
O, now be gone; more light and light it grows.
      ROMEO
More light and light; more dark and dark our woes!  (...)

Shakespeare
    

Trabalho de casa para uma sexta feira

Sexta-feira.Trabalho de casa. 

Exercício número um: 
Procura um espelho. Um que seja de corpo inteiro e se encontre num local bem iluminado. (Numa loja não convém porque o exercício vai ser ruidoso.) Olha-te bem. Mira-te de alto a baixo. Lembra-te como és ridícula. Vai visualizando cada pormenor da tua semana e de cada detalhe da tua imagem. É então que te vais rir. Rir muito. Rir à gargalhada. Rir até às lágrimas. 

Exercício número dois: 
Lava a cara.Sorri. Sorri muito, até que te doam as maçãs do rosto. Afinal tu és sempre a mais animada, a mais espirituosa, não é verdade?

quinta-feira, outubro 17, 2013

Escada

Só te vi 
           quando 
                      te toquei


 

E só então
                subi os degraus

Simples

so·fis·ti·ca·da

 : adjectivo
1. Sofismada.

2. Diz-se de um aparelho, de uma técnica muito aperfeiçoada, de uma grande complexidade.

3. [Figurado] Muito rebuscada, afectada, complicada, requintada.

( in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, online)

Oposto de sofisticada: Eu, Maria

quarta-feira, outubro 16, 2013

Ausência

Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes - e vieste...
- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
quando entraste, nas tardes que apareceste -
Como fui de percal quado me deste
Tua boca a beijar, que remordi...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço -
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
  Onde a minha saudade a Cor se trava?...


(Mário Sá Carneiro)
 
   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
   (Nadir Afonso, A gaivota)
Que importam as lembranças se não estás?
Se o teu perfume  já não permanece
na minha pele depois das horas roxas?
 

Escolhas


 

Aclamam Arthur mas o meu coração está com Lancelot!

Interrogação


Se eu não te amasse, tu vinhas?

terça-feira, outubro 15, 2013

Coração

Baixa-se, dobrada pela cintura, mãos caídas. Olha de perto os cacos espalhados pelo chão. Vidro vermelho, brilhante, de arestas aceradas. Leva a mão direita ao peito. Falta-lhe o bater do coração.

                 (Frida Kahlo)

Labirinto

Mesmo
uma linha
recta
é o labirinto
porque
entre
cada dois pontos
está o infinito

Adília Lopes, in Caderno, & Etc, 2007

Perco-me na linha recta, em pontos infinitos...

Do entendimento da arte

Quem disse que as pessoas devem ser planas? 
Quem o disse nada sabe sobre pessoas. 
Quem disse que no coração não nascem papoilas em qualquer estação do ano? 
Quem o disse nada sabe sobre corações. 

 Maria Eu

         © THONG PHAM













Quem disse que a pintura deve parecer-se com a realidade?
Quem o disse vê com olhos de não entendimento
Quem disse que o poema deve ter um tema?
Quem o disse perde a poesia do poema
Pintura e poesia têm o mesmo fim:
Frescura límpida, arte para além da arte
Os pardais de Bain Lun piam no papel
As flores de Zhao Chang palpitam
Porém o que são ao lado destes rolos
Pensamentos-linhas, manchas-espíritos?
Quem teria pensado que um pontinho vermelho
Provocaria o desabrochar da primavera?                                     

 Su Dong Po

























segunda-feira, outubro 14, 2013

Hei, toiro! Hei! Hei, toiro lindo!

"(...) Não é por acaso que um matador depois de lidar uma série, por exemplo de derechazos ou naturais, ao pressentir que o toiro o começa a rejeitar, castiga um pouco mais e se sente que o toiro o está mesmo a rejeitar faz um desplante, atirando com a muleta ou pondo-se de joelhos; ele percebe que o toiro o rejeita e só a partir daí se pode expor sem defesa."

Palavras de Simão Nunes Comenda no Colóquio “A Arte de Pegar Toiros” realizado em Santarém em 15 de Janeiro de 1998 no Centro Cultural Regional de Santarém

            (Salvador Dali, Bullfight)

Na arena, o espectáculo do sangue a jorrar das feridas.  O toiro ferido de morte... O cheiro a sangue fresco em borbotões. A arena no delírio selvagem sem olhar aos despojos da lide.
A "glória" do lidador que se retira entre aplausos...

domingo, outubro 13, 2013

Red



              (Blood, copper, preserved on plexiglass, UV resin)

Sometimes, I bleed to death stabbed by nice words.

Lençóis



       (Gareth McConnell)

Deixámos pedaços de nós nas rugas dos lençóis
Numa, o beijo breve e inicial
Noutra, as tuas mãos em concha no meu peito
Naquela, ainda, a crispação dos dedos 
a acompanhar o grito...
O que resta de ti e de mim, agora?

Maria Eu

sábado, outubro 12, 2013

Prefixo "des"


© Sebastien Barriol

Desencanta-me!
Des(h)abita-me!
Desabriga-me!
Desala-me!

Desmancha-me com os dedos sujos de ternura!

sexta-feira, outubro 11, 2013

Saudade(s)

Saudade: s.f. Recordação suave e melancólica de pessoa ausente, local ou coisa distante, que se deseja voltar a ver ou possuir.
Nostalgia.

Classe gramatical de saudade: Substantivo feminino
Separação das sílabas de saudade: sau-da-de
Plural de saudade: saudades


(in Dicionário online de Português)

 Saudade já dói que chegue. Precisava ter plural?

            © Edward Hopper, "Quarto de Hotel".

(...)
 hay diez centímetros de silencio
entre tus manos y mis manos
una frontera de palabras no dichas
entre tus labios y mis labios
y algo que brilla así de triste
entre tus ojos y mis ojos

(...)
Mario Benedetti
 

Privação

Todas as manhãs tomava um comprimido. Branco, redondo, com uma leve incisão no centro.
Um dia decidiu cortá-lo ao meio. Pela metade parecia-lhe bem. A incisão ditava o corte.
E porque não um quarto? Ao partir a metade, na falta da pequena depressão central, esboroou-se...
Melhor ficar pela metade já que um é de mais e um quarto impossível.
Privar-se, só em caso de ruptura de stock!


                    (Columbina no sofá,Matias Morales)

Cintilação

                          (Graça Morais)


"- acendem-se mãos voláteis
  cintilam corpos por dentro doutros corpos
  surge o delírio na polpa açucarada dum sexo
  e queda a queda regressamos ao possível oásis
  apesar de tudo conhecemos a sede e os secretos poços
dos nómadas
  perseguimos outros passos lavrados nas areias da memória"

   Al Berto, in Apresentação da Noite

quinta-feira, outubro 10, 2013

Constatação

Não é por capturares uma borboleta que te nascem asas.
© Slavina Bahchevanova

Brel - Ne me quitte pas

Il nous a quitté il y a 35 ans.


Moi, je ne veux pas qu'on me quitte!

Proposta

Deixa que te leve...

                                                 (Safwan Dahoul, Untitled, 1993)

                                                               ...ao tempo antes do eclipse.

quarta-feira, outubro 09, 2013

Cor

Num mundo a preto e branco...


     © Enzzo Barrena

                                                     ...é tão fácil amar a cor.

Música


 Fechas os olhos e respiras... devagar. Sentes a música na pele. Vibras a cada som. Faz-se dedos de veludo, macios, suaves. Tu e a música. Amantes perfeitos.

terça-feira, outubro 08, 2013

Grita!



Não te sentes tão composta na cadeira! Sai de casa agora! Sei que é hora de estar em casa, e depois? Sai! Pontapeia aquela lata bem no centro e fá-la voar até ao quintal do vizinho! Grita! Pragueja o que muito bem te apetecer! Podes, até, tirar a roupa e mergulhar nua no riacho.

Som

No vazio...


© saul landell
                                                     ...o grasnar repetido das gaivotas.

Ardor

Ardes-me
                 ainda que não te arda mais.

                                                    (Os amantes - Rene Magritte)

Outra coisa



























(Desenho erótico de Pablo Picasso)




OUTRA COISA

Apresentar-te aos deuses e deixar-te
entre sombra de pedra e golpe de asa
exaltar-te     perder-te desconfiar-te
seguir-te de helicóptero até casa

dizer-te que te amo  amo  amo
que por ti passo raias e fronteiras
que não me chamo mário que me chamo
uma coisa que tens na algibeira

lançar a bomba onde vens no retrato
de dez anos anjinho nacional
e nove de colégio     terceiro acto

pôr-te na posição sexual
tirar-te todo o bem e todo o mal
esquecer-me de ti como do gato

(MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS, 

in «Poesia 71», 19 Projectos de Prémio Alonso Ortigão)