O terminal do
aeroporto fervilha de vida singular, mas plural de diversidade. Um casal de
Judeus ortodoxos, novíssimos, atrai o muitos olhares. Ela, com um bebé nos
braços, traja de azul escuro, camisola larga e comprida a combinar com a saia
de pregas pelo tornozelo, onde espreitam as meias grossas agasalhando os pés
nas sabrinas pretas. Na cabeça, um lenço igualmente preto. Ele, com o
costumeiro fato e chapéu pretos, as peiot (pequenos cachos) emoldurando o rosto
pálido. Passam os olhos pelos produtos de marca, detendo-se nas lojas de luxo,
mas nada comprando.
Há um certo ar
de recriminação e desconforto, ainda que disfarçado.
No entanto, a
chegada de uma família japonesa arrebata as atenções. Homem e mulher
elegantíssimos, vestidos com roupa Prada e acessórios marcadamente
extravagantes, seguidos por dois rapazes adolescentes usando sapatilhas
Balenciaga, airpods a afastar qualquer som externo e olhares perdidos na sua
“onda”.
Demoram-se um
pouco na zona de onde o primeiro casal tinha acabado de sair, compram uma mala
Céline de mil e seiscentos euros e uma pequena caixa com dois pares meias de
homem Louis Vuitton de quinhentos.
Dirigem-se à
porta de embarque conforme chegaram, altivos e distantes, apenas com mais dois
sacos de compras e menos alguns euros na conta do cartão de crédito dourado.
Há um certo ar
de recriminação e desconforto, ainda que disfarçado. Contudo, acrescente-se-lhe
uma ponta de inveja.
Na hora de
deixarem os sofás, há garrafas de água vazias, cascas de banana e invólucros de
bolachas e chocolates nas mesas baixas.
Dirigem-se à
porta de embarque de uma companhia low cost, arrastando as pequenas malas de
dimensão regulamentar.
Sigo-os, depois
de depositar o lixo no caixote mais próximo.