
Agosto. O sol queima o
milho nos campos e, do rio, evola-se uma névoa de água, que logo desaparece. As
cigarras, enlouquecidas pelo calor, cantam à desgarrada, numa melodia
desafinada, desafiando os grilos que se lhes juntam. Na aldeia, as janelas
estão fechadas e as cortinas corridas. Nem vivalma nos caminhos.
Na sala verde, Maria
Antónia dormita no sofá, um livro de poesia aberto no colo. Não adivinha que
João Maria, indiferente aos 38 graus que se fazem sentir, se dirige a sua casa.
O som da campainha ecoa repetidamente. A porta abre-se, finalmente, e um Afonso sorridente pergunta: Em que
posso ajudar?
João Maria, hesitante,
pergunta por Maria Antónia.
Oh, deve ter adormecido!
Vou chamá-la!
Que não, disse. Voltaria
um outro dia, quando estivesse mais fresco.
De regresso ao caminho
escaldante, ouve uma voz cristalina chamá-lo. A rapariga morena, arquejante
pela pequena corrida, segura-o pelo braço.
Então, João, já não te
lembras de mim?
Teresa?
Sim, homem! E
repenica-lhe dois ruidosos beijos nas bochechas suadas.
(Maria Antónia? Quem é Maria Antónia?)