Durante quase toda a vida, Joana pensara no futuro.
Primeiro, quando seria capaz de ler os livros colocados na
estante mais alta da sala. Depois, quando lhos permitiriam ler.
Pelos seus 10 anos, perguntava-se como seria “ser mulher”.
Ouvia as conversas sussurradas das mais velhas e não se lhe afigurava coisa de
muito interesse. De grande interesse, por outro lado, eram as perspectivas de descobrir a que saberia um beijo, daqueles longos e apaixonados dos romances, lidos
aos 13 anos.
O beijo veio aos 15. Não foi longo nem apaixonado. Oh,
desilusão! Ficou o futuro prometendo melhor. E foi! Paixão, ardor, namoro dos
17! Nem imaginava outro assim! Mas houve outros beijos, de outros lábios. Mais
os beijos que os lábios, é certo, mas bons por demais, antevendo não
desapontarem.
Universitária, sonhava com a profissão.
Curiosamente, chegou um tempo em que o futuro era o agora.
Celebrava os momentos como se fossem únicos e últimos. Os livros começaram a
ser (re)lidos ainda com mais entusiasmo e os beijos (ah, os beijos), sempre
ardentes e demorados.