domingo, junho 29, 2014

Sei que é Verão mas não consigo esquecer-me do Inverno

Havia o peso dos cobertores da serra que parecia esmagar-nos a cada movimento, nos Invernos sempre frios. Custava, mesmo, entrar na cama para despir as últimas peças de roupa sem tiritar, até sentir o calor do pijama de flanela acabado de desenrolar da botija de estanho (mais tarde substituída por uma de borracha que dava, imagine-se, para abraçar). Às vezes, a mãe tardava em vir apagar a luz (tardar significava vir "só" pelas 10 horas da noite) e ficava ali, de barriga para cima, apenas com a testa e os olhos de fora da roupa da cama, a olhar o tecto onde umas sombras de humidade desenhavam sombras que podiam parecer fantasmas, cavaleiros, castelos, ... 

(Sándor Mulaj)

O edredon é leve e o ar condicionado nem permite que haja pijama, quanto mais botija. Entro na cama e os braços nus ficam por fora da roupa. É tarde, uma da manhã.  Esqueço-me de apagar a luz. Fico deitada, de barriga para cima, a olhar o tecto imaculadamente branco, sem fantasmas, nem cavaleiros, nem castelos, ... 
"Saudades de quando vinhas apagar a luz, mãe!"



8 comentários:

  1. Lendo e ouvindo o silêncio
    e todas as memórias que trazem dentro

    (triste e terno, isto)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Saudades quando vinhas apagar a luz,PAI!

      Eliminar
    2. Saudades, ponto.

      Beijinhos Marianos, Til! :)

      Eliminar
    3. A ternura, por vezes, também é triste...

      Beijinhos Marianos, Rogério! :)

      Eliminar
  2. .

    .

    . a saudade como presença in.equívoca e amplamente in.corpórea .

    .

    . beijo meu .

    .

    .

    ResponderEliminar