Desossaste-me
cuidadosamente
inscrevendo-me
no teu universo
como uma ferida
uma prótese perfeita
maldita necessária
conduziste todas as minhas veias
para que desaguassem
nas tuas
sem remédio
meio pulmão respira em ti
o outro, que me lembre
mal existe
Hoje levantei-me cedo
pintei de tacula* e água fria
o corpo aceso
não bato a manteiga
não ponho o cinto
VOU
para o sul saltar o cercado
Ana Paula Tavares
* Tacula: árvore africana com veios carmesim brilhante, usada para fazer tintos. Alguma tribos africanas, nomeadamente angolanas, pintam o corpo com uma tinta que fazem a partir dela.
Existo. Faço-me uma a cada dia com metade de mim. Inteira e dividida. Vejo o rio mesmo que o não veja. Respiro aqui e aí. Meio pulmão enxertado no teu.
A mulher, deixando-se subjugar, ou subjugando-se de livre vontade... deixa de ser ela mesma, de ter vida própria, respirando até o ar que "o outro" respira...
ResponderEliminarBelo poema (que entendo como denúncia...) dessa grande poetisa angolana.
Beijinhos
Tem poemas maravilhosos, sim! :)
EliminarBeijinhos Marianos, Mariazita! :)
Caramba, Maria, mas onde é que tu aprendeste a 'dessossar' estas coisas da poesia?
ResponderEliminarSerei sempre falha, nisto de escrever.
Falta-me isto.
Oh, melheri, eu não desossei, só escrevi aquela parte pequenina no final! :)
EliminarAdoro poesia. Ficou-me da universidade. Línguas... :)
Beijinhos Marianos, Uvinha! :)
Somos sempre mais do que aquilo que aparentamos
ResponderEliminarou queremos, ou vemos
Se és duas
sortes tuas
Eu, daqui onde me vês
somos três
E não sei onde param
meu coração
minha razão
meu coração
todos se estão enxertando
Somos sempre, a um dado momento, enxertos de algo ou de alguém! :)
EliminarBeijinhos Marianos, Rogério poeta! :)