sábado, junho 21, 2014

Modernidade



(Grace Cossington Smith)


Como se Morre de Velhice 
  
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)


Cecília Meireles, in 'Poemas (1957)'



 

2 comentários:

  1. Esta é uma das coisas que mais me entristece nas pessoas em geral: a indiferença. Estão mortas estando vivas e isso soa-me a pecado mortal, um descaso da existência. Normalmente vê-se à segunda feira quando, invariavelmente, se alguém pergunta como correu o fim de semana, a resposta é (repito invariavelmente): passou-se. (acompanhado de um encolher de ombros).

    Beijinhos, Maria, e que o teu fim de semana seja mágico. :-)

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    1. Pior, é a indiferença que já nem se sente, de tão funda ser. Ou a que se disfarça de interesse, sempre com o olhar distante... Um mundo moderno pouco recomendável!

      Muitos beijinhos de volta, Susana, e tem um excelente fim de semana, sem indiferença! :)

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