domingo, janeiro 05, 2014

Do corpo perecível

Falta-te o ar, já não há o cheiro a flores e, porém, tantas que te rodeiam, agora. Abandonaram-te as palavras em que te (re)vias e por mais que falem os que ali vês, não te chega o que dizem. Gélido, o corpo. Imóveis, as mãos.

 ( ©Thorsten Schnorrbusch)

O Corpo  

Ante as portas desgarradas, paradoxal
é a morte: impossível, feito realidade,
acaso predito. Corpo, deus imortal,
para sempre cego e mudo, abandona-te ao livre

ar. Que te transformes e assemelhes à noite.
Tempestade final das sombras, foste, corpo,
respiração com voz, área que habitaste,
vária e discordante, a cada movimento.

E agora que a luz desfalece e não a tocas,
nem por ela és tocado, a palavra deixou
de ser a tua pátria e não mais esfolias

o espaço. Agora, que já nada mudará,
nenhuma eternidade te rescende. A morte
petrifica o frágil espaço que foi teu.


Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"




5 comentários:


  1. A morte é mesmo paradoxal... leva embora o corpo, mas não as memórias de quem continua vivo.
    Assim será com aquele a quem um dia chamaram de Pantera Negra...


    Beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Curiosamente, escrevi este pot ontem, ainda o Eusébio não tinha morrido. Escrevi-o a pensar nos meus pais...

      Beijnhos Marianos, Afroditezinha! :)

      Eliminar

    2. Percebi que não o tinhas escrito por causa da notícia do dia (do dia e dos próximos...) pois se reparares a referência ao Eusébio no meu comentário veio apenas como uma constatação complementar.


      Beijos de entendimento
      (^^)

      Eliminar
  2. Ele deu tudo... hoje nada lhe podem tirar.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Como disse à Afrodite, este post foi escrito com os meus pais no pensamento...
      Mas pode servir bem ao Eusébio, sim.


      Beijinhos Marianos, Rui! :)

      Eliminar