(imagem do blog snake and snail)
- ... as plantas...
E Setora interrompeu. Empertigou-se.
Carregou no rosto chumbo de ocasião.
- Dá cá esse papel!
A miúda encolheu-se.
Faces incendiadas a rubro,
fogo de aflição.
Refugiou-se em silêncio solidário.
Resistiu.
- Esse papel!
Vergou.
Estendeu a folha,
o olhar a nascer das lágrimas,
a mão aberta sem alento.
A professora leu
no segredo das palvras mal riscadas:
"Bea
Diz-me só isto. Gostas de mim?
Bea
Ainda gosto de ti.
Disse aquilo
Que tu para mim morreste
Não quer dizer que eu não gosto de ti.
Só disse aquilo porque tu rasgaste a carta.
Bea
Gosto de ti
Muito muito.
Lê e dá a resposta.
Depois de leres rasga
ou mete no lado que tu quiseres
Bea
Faço anos no dia 27 deste mês.
Se tu quiseres ir a minha casa diz-me
E se tu quiseres podes levar a tua irmã.
Bea
Amo-te muito
Bea
Se tu gostasses de mim a gente era muito feliz.
Dá a resposta em Trabalhos Manuais.
Luís
A Setora negou a carta
à mão pedinte da miúda.
Olhou os olhos grandes do garoto
aflitos de inocência.
Suspendeu a palavra agreste
nos lábios finos
Sorriu à saudade.
Dobrou a carta
com a benevolência dos cabelos prateados,
guardou o papel
no bolso branco mais rico
e continuou:
- ... as plantas...
Franco Carretas, in "Baladas de uma revolução"
ResponderEliminarHá coisas belas
Tenho minha algibeira cheia delas
Umas são virtuais
como esta
(quem na vida não escreveu carta parecida?)
Ah, as cartas de amor da infância! :)
EliminarBeijinhos Marianos, Rogério! :)
Porque a professora, falando de plantas, sabia que até estas seguem a direcção do vento, gentilmente -- e assim o vento passa e as plantas ficam. Assim ficam as memórias da inocência, mesmo quando o tempo passa, como o vento.
ResponderEliminarBoa noite, Maria :)
O Luís e a Bea ganharam o coração da professora. :)
EliminarBeijinhos Marianos, Xil! :)
Na verdade
ResponderEliminarRecorda-nos da imensa ingenuidade da infância, não é? :)
EliminarBeijinhos Marianos, MA! :)
A idade da inocência, num tempo de respeito.
ResponderEliminarBeijinhos observadores.
Outros tempos...
EliminarBeijinhos Marianos, Observador! :)
e pensava eu nesse tempo:
ResponderEliminar"Será que amor de infância pode ser amor pra vida inteira?"
santa inocência :)))
Pra vida inteira, só mesmo a vida...
EliminarBeijinhos Marianos, Legionário! :)
Tão doce:)
ResponderEliminarBeijinhos!
Ai, este Luís derreteu o coraçãozinho da Bea! :))
EliminarBeijinhos Marianos, je suis...noir! :)