sábado, outubro 26, 2013

Divagações

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <<Fui eu?>>
Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa
 



Onde me encontro? Ali, na rua, caminhado sem olhar o céu? Sentada nas Portas de Bradenburgo, em sussurros de inquietude? Ou em lugar nenhum?

2 comentários:

  1. Algures...

    Noutra perspectiva, "encontras-te" onde já estiveres à tua espera!

    Beijinhos:)

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    1. Sempre há algum lugar, ainda que seja difícil chegar lá!

      Beijinhos Marianos, je suis...noir! :)

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