sexta-feira, dezembro 27, 2013

Caminhos

A silabar que o poema é estulto
o amado abre os dentes e eu deslizo
sismos, orgasmos tremem-lhe no olhar
enquanto eu, quase a rimar, exulto.



Conheço toda a terra só de amar:
sem nós e sem desvãos, um corpo liso.
Tenho o mênstruo escondido num reduto
onde teoricamente chega o mar.



Nos desertos - íntimos, insuspeitos -
já caem com a calma as avestruzes
- ou a distância, com os oásis, finda;



à medida que nos arcaicos leitos
se vão molhando vozes e alcatruzes
ao descerem ao fundo pego, e à vinda.

Luíza Neto Jorge, in "Quinze Poetas Portugueses do Século XX"

       (Maria STT)

E é com a raiva de uns dentes afiados que eu rasgo o caminho até ao êxtase.



10 comentários:

  1. Viver interessa mais que ter vivido; e a vida só é vida real quando sentimos fora de nós alguma coisa de diferente; se a diferença se tornar oposição, se o que era caminho diverso se transformar em muro de rocha, então no duelo que se trava, no instável equilíbrio que a cada momento se pode romper e precipitar-nos das alturas, nesta batalha em que não há um minuto de rancor pelo adversário, encontraremos a grande e forte vida; ora o êxtase consiste realmente no apagar das distinções, na identificação perfeita de dois termos.

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    1. De peito aberto às balas... :)

      beijinhos Marianos, Legionário! :)

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  2. Respostas
    1. Luíza Neto Jorge é pouco conhecida mas tem belos poemas.

      Beijinhos Marianos, Observador! :)

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  3. A Luiza é uma poeta de referência
    Boa partilha

    Bj

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  4. Não conhecia :-( mas gostei...E da música também é interessante.
    Rasga, miúda, rasga!

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  5. "Raiva" animalesca!

    "Pour moi, être aimé n’est rien, c’est être préféré que je désire."
    André Gide

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