(El barco amarillo, Veronica Byers, Chile)
O ano está quase a terminar. Olho pela janela e a noite desceu rapidamente sobre a cidade. Ontem desceu assim, também, na aldeia onde cresci. Onde havia uma luz meio desmaiada a deixar ver as tangerineiras quase a serem derrubadas pelo peso dos frutos e as camélias a abrir orgulhosamente no verde da cameleira, havia apenas o negrume da noite. Tantas vezes pisei aqueles campos onde apenas vislumbrava pontos luminosos em movimento, projectados pelo automóveis que passavam pela estrada adjacente. Tantas vezes trepei às árvores, brinquei ao esconde-esconde, corri atrás das galinhas, apanhei flores, fiz barquinhos de papel para cruzarem os regos de água... Foram anos felizes. Foram anos com a mãe a fazer biscoitos de canela ao Sábado à tarde, enquanto o pai trabalhava (sempre, sempre a trabalhar, o pai), o cheiro bom da marmelada e da geleia. Não há mais, esses anos...
Mas haverá outros. Haverá, certamente, anos em que eu faça biscoitos ao Sábado à tarde e as crianças cheguem com olhos brilhantes e inocentes a tentar roubar alguns do tabuleiro, ainda quentes. Haverá dias em que o cheiro, o olhar, o toque, sejam intensos e desejados.
Haverá 2014, sem planos, sem declaração de intenções. Por ora, sou feliz.
FELIZ 2014!