(Jorge Pinheiro)
Cresci a adorar o meu pai. Homem bonito e tisnado pelo sol de quem se dizia quebrar corações em rapaz.Marcado por uma infância na qual não faltou comida na mesa mas que também não foi parca em trabalho, nunca foi de muitas palavras.
Aos 9 anos já abandonara a escola com a 3ª classe, escolaridade obrigatória num país de analfabetos. Nunca gostara da carteira onde o sentavam frente aos cadernos nem da professora que marcava as pernas dos meninos com vergões de canas que eles mesmos lhe levavam, do canavial. Tantas e tantas vezes ficava pelo caminho a jogar futebol com os mais velhos ou a ajudar um e outro a cuidar dos animais no pasto. Esses atrasos valiam-lhe a fúria da mãe, mulher de "pêlo na venta", e muitos castigos.
Muito mais tarde, filhas crescidas, foi fazer o exame da 4ª, numa manhã envergonhada, em outra cidade, não fora alguém saber (eu soube-o pela minha mãe, já adulta, em muito segredo). Conheci-o sempre a trabalhar, numa jorna longa, sem nunca faltar um dia, mesmo doente. De uma rigidez que fazia questão de aplicar a ele mesmo para depois o fazer aos outros, os elogios aos seus eram guardados no peito e as críticas ferozes e públicas.Vi-o envelhecer a trabalhar até lhe dizerem que não dava mais para ficar e também o vi engolir as lágrimas por isso. Nunca teve jeito para as palavras. Escrevi-lhe as que proferiu na despedida aos que o tinham acompanhado nas horas longas de trabalho.
Olho-o agora, um homem de rosto enrugado e triste, encolhido no sofá, a falar do pouco tempo que lhe resta e a fazer as mesmas perguntas repetidamente. Só lhe brilham os olhos ao olhar das filhas, dos netos e bisnetos.
Ontem, segurava-me pela mão para que os meus passos se fizessem fortes enquanto me ensinava que o céu é azul. Hoje, pego-lhe na mão e lembro-lhe que o céu pode ser azul e não cinzento, como o pinta nos seus dias de memórias cada vez mais difusas.
Diz que lhe envio um abraço fraterno
ResponderEliminarSe te perguntar quem sou, diz-lhe ser eu alguém que se julga irmão de todos os homens bons
(lindo o vídeo)
Abraços, dou-lhe sempre muitos!
EliminarBeijos, Rogério! :)
Que bom ainda teres pai...Eu já não tenho!!!
ResponderEliminarVerdade. Mas custa muito vê-lo definhar.
EliminarBeijos, Til! :)
"Hoje, pego-lhe na mão e lembro-lhe que o céu pode ser azul e não cinzento, como o pinta nos seus dias de memórias cada vez mais difusas."
ResponderEliminarMaria, faço minhas estas suas palavras!:)
Boa semana:))
Boa semana, Legionário, e obrigada! :)
EliminarA intensidade de uma vida e das que ela tocou descrita de forma tão tocante. Fiquei comovido.
ResponderEliminarDói...
EliminarBeijinhos, Luís, e obrigada pela presença! :9
Um texto comovente, soltei uma lágrima de emoção.
ResponderEliminarBem hajas Maria, mulher e filha linda.
Um beijo para ti e um carinho para o teu pai.
Obrigada, Sandra. Pai é sempre alguém especial.
EliminarBeijos. :)
Ah, Maria,
ResponderEliminarO difícil nem é morrer, mas ver/sentir o corpo não responder ao comando, e ir morrendo aí, aos poucos, numa tortura sem outra equiparada. Tão difícil é morrer em vida, que se limite a um respirar cansado, a umas poucas, raras visões de vida para lá de nossa catacumba que é esse corpo moribundo. Sim, o céu pode ser azul e ter até todas as cores da paleta, de que me vale, se não seguro com firmeza o pincel para pintar minha tela?
Que nos valha, pessoas que nos amem verdadeiramente, e, como a Maria, nos segurem a mão.
um bj amg
O amor é que nos ampara sempre, Carmem. Mas, sim, o difícil não é morrer.
EliminarBeijos. :)
Uma ternura sentida
ResponderEliminarBj
Muito.
EliminarBeijos, Puma! :)
E depois de ler esta homenagem linda, as lágrimas escorreram.
ResponderEliminarUm beijo Maria :)
Beijos, I! :)
Eliminartivesse eu o meu pai vivo, e creio que lhe dedicaria a mesma ternura! assim, envio-lha em silêncio, ou sussurros muito pequeninos!
ResponderEliminarMuito obrigada, desabafosemrodapá!
EliminarBeijinhos. :)
Texto lindo como a autora :)
ResponderEliminarBeijinho grande Maria Tu :)
Obrigada. miúdo!
EliminarBeijos. :)
Não tenho palavras, deixei que as lágrimas mostrassem o que senti ao ler o teu texto de amor puro. Lindo e sentido.
ResponderEliminarBem haja Maria. Beijo
Muito obrigada, SD!
EliminarBeijos. :)
Abraço-o por mim! Coisa que gostaria de voltar a poder fazer ao meu... :)
ResponderEliminarFalta. Imagino, GM!
EliminarBeijos. :)
Que lindo Maria. Guardei o dia de hoje para ler o teu texto sobre o teu pai. Fiz bem.
ResponderEliminarPercebi-o e percebi-te.
Um abraço num novelo de lã muito quentinha, porque há pessoas que precisam é de calor no coração.
Como o teu pai.
Precisam, sim, Uva!
EliminarObrigada!
Beijinhos. :)
o seu pai sempre falou
ResponderEliminarnão havia era palavras
para dizer o mar profundo
o medo todo do mundo
a água toda que o cegou
não lhe largue a mão
para que sinta sua menina
cante-lhe à noite a canção
.
Gostei muito da partilha, Maria.
Quisera poder nunca largar-lhe a mão, Agostinho!
Eliminar(obrigada)
Beijinhos. :)
O meu pai não o levo pela mão, mas vai comigo para todo o lado... no coração.
ResponderEliminarBeijinhos
O coração é o melhor dos lugares...
EliminarBeijo, Rui! :)
É um sentimento tão duro que é muito difícil expressá-lo assim, de uma maneira tão maravilhosa.
ResponderEliminarO amor adoça-nos as palavras.
EliminarObrigada, Cuca! :)