terça-feira, janeiro 06, 2015

Densa é a noite


(Arvydas Kašauskas)




"Que estado extraordinário, a vulnerabilidade nocturna. Não acontece sempre, mas às vezes, ao deitarmo-nos, o medo cai-nos em cima como um predador. Então a dimensão das coisas desarticula-se; problemas que durante o dia são apenas pequenos aborrecimentos crescem como sombras expressionistas até adquirirem um tamanho sufocante e descomunal.


(...) No desamparo das noites, enfim, quando me oprime a lembrança dos Mengele que torturam crianças, ou o pavor modesto e egoísta da minha própria morte, que já é, por si só, bastante apavorante, recorro à louca da casa e tento encadear palavras belas e inventar outras vidas. Embora às vezes pense que não as invento, que essas outras vidas estão aí e que eu deslizo simplesmente para dentro delas."

Rosa Montero, in A Louca da Casa



Misteriosos são os refúgios do medo. De outras peles nos revestimos em fuga do pavor nocturno, encarnando outras personagens, galopando vidas inventadas.

11 comentários:

  1. Acho sempre as tuas versões lindas!
    :)

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  2. De noite tudo é mais intenso. Até o medo cresce :)
    Um beijinho Maria :)

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  3. Acho que os meus fantasmas são diurnos
    E sabe que mais?
    são mais visíveis à hora dos telejornais

    Para mim, a noite não é escuridão
    escuridão é cegueira, e essa acontece até de dia
    Sabia?

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    1. Esses são os piores fantasmas, concordo.

      Beijinhos, Rogério! :)

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  4. É à noite que a confrontação é mais iminente. Sem motivos perturbadores, ruídos alienantes é-me impossível escapar, o eu do eu.
    Dois eus? Sim, ou mais.

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  5. Dependendo do estado de espírito, a noite pode ser assustadora..


    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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