quinta-feira, dezembro 25, 2014

Da arrumação


Sempre fora extremamente arrumada. Nunca deixava nada fora de sítio. As gavetas da cómoda eram meticulosamente divididas por tábuas revestidas a veludo azul escuro, ficando as meias mais curtas ao lado das de liga, depois as cuecas separadas por cor e os soutiens de cada conjunto, os bodies, tudo no seu devido lugar. O mesmo com os vestidos, as blusas, as saias, as calças, os casacos, numa ordem extraordinária.
Irritava-a de sobremaneira não poder fazer o mesmo aos sonhos. Por isso, num dia de faxina geral, pegou neles, fechou-os numa arca e atirou a chave ao rio que corria logo ali, ao lado da janela do seu quarto.

Mal ela adivinhava que, aos sonhos, não há prisão que os confine.



10 comentários:

  1. Eu gostava de dizer o mesmo das minhas gavetas, das minhas cuecas e da minha roupa :p
    Quanto aos sonhos já voam há tanto tempo :))
    Beijinhos Maria :)

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    1. Mas ter cuecas enroladas com meias e vestidos juntos com calças dá aquele ar de promiscuidade levemente excitante! :p Eheheheh.
      Beijocas,I! :)

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  2. De vez em quando é necessário fazer uma limpeza geral em nossa mente, assim como fazemos em nosso computador. Às vezes, há tanto lixo acumulado, que não sobra espaço pra coisas novas...:)

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    1. O problema é quando não conseguimos...

      Beijinhos, Legionário, e uma boa semana! :)

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  3. Também sou assim, super arrumada e organizada. Dizem que até demais...mas os sonhos esses deixo-os desarrumados, à deriva, sem organização possível, indomáveis à espera de melhores dias para um a um serem concretizados.

    Beijinho miúda grande
    Boas Festas. Não vieram muito a tempo mas mais vale atrasadas que nunca.

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    1. Eu gostava de ser... Os meus sonhos, então, são do piorio nisso da organização!

      Beijos, enfermeirinha. Que sejas muiiiiitooooo feliz! :)

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  4. Ninguém avisou a mocinha que a arrumação meticulosa da cómoda incomoda.
    Os sonhos dispensam arrumações, compartimentações, veludos. Está-lhes na natureza o gosto de liberdade, de evoluirem no ar, de se esparrameirarem ao luar, de se deitarem em abandono total. Tudo ao natural.

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    1. É isso mesmo, Agostinho! Espartilhos já só se usam por vaidade e de quando em vez! :)

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  5. Os sonhos são como o PENSAMENTO... são livres!!

    (já te tinha dito que adoro ouvir o Philippe Jaroussky, não já?)

    Beijinhos repetidos
    (^^)

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