sexta-feira, dezembro 05, 2014

O agente traído



 (imagem daqui)


Christine aconchegou-se no banco e pousou a cabeça no meu ombro. Ainda a sentia tremer. O carro de mudanças automáticas permitia-me abraçá-la sem fazer perigar a condução. Apenas um pormenor me deixara a rememorar o que acontecera no restaurante, a insistência de Christine em ficar até que vissemos quem necessitara de assistência urgente. Depressa esqueci esse detalhe absurdo. Chegáramos ao hotel e, logo no elevador, os beijos inflamados e as mãos daquela mulher ardente por dentro do meu casaco fizeram-me arrastá-la para o quarto e atirá-la para a cama sem delongas.

Nem me dei conta de que, ao despir as calças, a soqueira tinha resvalado para o chão, indo parar debaixo da cadeira onde jaziam, amarrotadas, as roupas de Christine.

Acordei com o sol a bater-me na cara e a estranha sensação de não me conseguir mexer. Abri os olhos, a custo, e vi Christine de pé, já vestida, com uma Smith & Wesson .38 na mão. Estava manietado e, nitidamente, tinha sido drogado.
- Já acordou! disse, como se estivesse mais alguém no quarto.
- Veremos quem bate melhor, agora! respondeu uma voz masculina.

Voltei a cara para o lado esquerdo, de onde viera a resposta. O motherfucker estava sentado no sofá, cara inchada, um dos olhos fechados por baixo de um papo roxo, com a minha soqueira na mão.

(Com as minhas desculpas ao Xilre, por ter ousado dar continuidade à sua história e com gratidão por despertar esta vontade. Com o meu agradecimento ao xpto, por me fazer recordar as dezenas de livros policiais que se escondem no lugar mais inacessível das minhas estantes.)

 

8 comentários:

  1. Adoro!
    Vocês andam todos inspirados... Também apetece :)

    ResponderEliminar
  2. O mundo está a ficar perigoso...E depois desse fernesim inicial, a cama era mesmo precisa?
    ;-)
    Gostava tanto de elevadores, mas agora estou com medo...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro Tio, a cama é tão mais confortável para, como dizer, prolongar o frenesim! ;)

      Beijinhos Marianos! :)

      Eliminar
  3. Bem... O INEM deve perguntar-se de onde vem de súbito esta autêntica catadupa de gente de cara desfeita, ossos quebrados, voz funda de "chain smoking" :)

    Excelente!

    Muito obrigado e um óptimo fim de semana, Maria!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada, eu, caro Xilre! Foi um atrevimento tentar ombrear contigo no que toca a este "negócio" das letras!

      Beijinhos Marianos e um bom fim de semana para ti também! :)

      Eliminar
  4. Mãos por dentro do casaco poderia sugerir assalto eminente. Parece não ser esse o móbil do crime. A verdade saber-se-á uns capítulos mais à frente?
    Boa história, Maria.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Continuação da magnífica história do Xilre. Nem me atrevo a ir mais longe. :)

      Beijinhos Marianos, Agostinho! :)

      Eliminar