domingo, agosto 03, 2014

Onde ides que estais nus?

(imagem retirada daqui)


Com a Fortuna não Perde o Ser de Besta  

Na carreira veloz, a deusa cega
Lança às vezes a mão a um feio mono
E o sobe, num instante, a um coche, a um trono,
Onde a Virtude com trabalho chega.

Porém se, louca, num jumento pega,
Por mais que o erga não lhe dá abono:
Bem se vê que foi sonho de seu sono,
Quando a vara ou bastão ela lhe entrega.

Pouco importa adornar asno casmurro
Com jaezes reais, mantas de festa,
Se a conhecer se dá no rouco zurro.

Quem, no berço, por vil se manifesta,
Quem nele baixo foi, quem nasce burro,
Co'a Fortuna não perde o ser de besta.


Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'





Na cegueira da avidez e da ganância, poder não significa, necessariamente, saber. 

4 comentários:

  1. Só o título é já um poema...

    beijo amigo

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  2. Nunca tanto como agora..., a cobiça e a ganância do ter não só engoliu o ser e a convivência pacífica, mas até privou a maior parte dos homens de ter o indispensável, para acumular nas mãos de uns poucos o que a todos pertence!

    Bom Domingo Maria:))

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    1. Triste, não é, Legionário?

      Beijinhos Marianos e um excelente Domingo para ti também! :)

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