segunda-feira, agosto 25, 2014

O tempo dos morangos

Morangos  

No começo do amor, quando as cidades
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podíamos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tínhamos

a vida inteira pela frente. Mas, amigos,
como pudemos pensar que seria assim
para sempre? Ou que a música e o desejo
nos conduziriam de estação em estação
até ao pleno futuro que julgávamos

merecer? Afinal, o futuro era isto.
Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões. Na viagem necessária
para o escuro, o amor é um passageiro
ocasional e difícil. E a partir de certa altura
todas as cidades se parecem.


Rui Pires Cabral, in 'Longe da Aldeia'



 
(Roxanne Grooms)


Perto da luz das estrelas, na aldeia onde a escuridão se iluminava de pontos brilhantes no céu, nem a ideia da morte nos assombrava. Morangos? Comiam-se ali mesmo, apanhados frescos das morangueiras acabadas de regar. O amor parecia fácil. Não havia porque apanhar o eléctrico já que o futuro era o agora.


7 comentários:

  1. estamos sempre a viajar para o futuro...

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    1. E é sempre agora, esse diabo do futuro...

      Beijinhos marianos, Tétisq! :)

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  2. Perdeu-se o encanto de descobrir e saborear as coisas a pouco e pouco. E os morangos esses são normalizados e sabem a água !

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    1. É verdade, Ricardo, perdeu-se o prazer de saborear...
      (obrigada)

      Beijinhos Marianos! :)

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  4. Ao contrário do que escreve Rui Pires Cabral, acho que o saber acumula-se sim... e só por isso se conseguem distinguir os cambiantes dos sabores... a cada morango comido... a cada cidade visitada.

    Beijinhos em Ti sempre no presente... e sem pressas
    (^^)

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    1. Talvez sim... Talvez não...

      Beijinhos Marianos, Afroditezinha! :)

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