(Frederic Leighton)
Às vezes, tropeçamos em textos que nunca, mas nunca, deviam deixar de ser lidos por, sei lá, milhares de milhões de pessoas. Às vezes, lemos um texto que nos fala do AMOR total, incondicional, aquele que vai para além da memória recente.
Do Blog com o estranho nome de Linda Porca que tem como dona alguém que é realmente linda:"O amor mais pequenino
A pessoa que me apresentou os clássicos, é a mesma que hoje me fala de
trivialidades não menos importantes. Por quem passaram Eça, Camilo, John
Galsworthy, Isabel Allende, Agustina, Somerset Maugham, Saramago, Laura
Esquível, Anaïs Nin, Namora, e mais mil, que a minha gasta memória
limpou, ou não acha agora, fala-me de minudências da feminilidade, como
de assuntos fulcrais para o avanço da espécie. Eu colaboro, porque o
amor é uma matéria elástica, sem limites. Além disso, deixei de ter
cabeça para conversas mais elevadas, naquele local, com tanta gente
deixada, ali ao sol, à nossa volta. Estamos tão sós, de tão
acompanhadas.
Foram alguns anos em que nos perdemos, até ficarmos órfãs uma da outra.
Sem o meu pai, vi-a perdida, e perdi-a uma vez — mas não de vez.
Reencontrei-a outra, mas não tinha mais nenhuma, e a orfandade é uma
mágoa que não se ampara em idade nenhuma, por isso a recolhi num abraço
de volta sem retorno.
Levo-lhe verniz castanho, por saber que não me permite o vermelho das
minhas, o mesmo vermelho que via nas dela e me fazia desejar crescer
muito depressa, só para ter umas unhas iguais. Cresci, acho eu, e
comecei a pintá-las de vermelho no momento em que deixei de ver as dela
com cor.
Pergunta-me que dia é hoje, mas não quero dizer-lhe o dia do mês, para
que não saiba que estamos em Junho, Junho do pai. O meu pai chegou em
Junho, a meio do mês, e deixei de o ver em Junho, uns dias depois de ter
feito anos.
- Esta cor chama-se café.
E pinto-lhe as unhas de castanho.
Diz-me que tenho as mãos bonitas, tão pequeninas, e ri-se, quando lhe
mostro a mão aberta. Depois diz-me que eu tenho os pés tão pequeninos,
e, por serem, não contesto, mas passa-me a insegurança de não saber se
me vê pequenina, e o desconsolo de não poder devolver-lhe o reflexo, e
vê-la ainda jovem. Isso torna-me pequenina.
Fala-me do meu cabelo, diz-me que devia tratar dele, que está muito
comprido, e que tenho as pernas escuras. Volta a rir-se toda, compara as
dela com as minhas, lado-a-lado.
- Nem pareço sua filha.
Então, rimo-nos as duas, diante da possibilidade impossível que, ainda que possível, seria já tão irreversível.
- Sais ao teu pai.
Olho-a até lá dentro, à profundidade que já não está lá, e procuro o meu
pai na lembrança dela. Corro tudo, e acho que o encontro, Era tão escuro, o meu pai. É a ele que eu saio assim, não é?
- É a ele, não vês a minha cor? Eu sou branca...
A saída é sempre um parto que me dói nascer. Tenho a impressão de um
puxão na cabeça, quando a deixo, sentada e pequenina, a dizer-me adeus
com a mão aberta.
Ouço-a dizer à senhora que está sentada ao lado:
- É o meu amor mais pequenino.
E nunca, como agora, percebo o alcance dessas palavras."
Oh, Maria, não vale! Agora comoveste-me tu...
ResponderEliminarAgradeço-te tanto, pela delicadeza, mas também por, finalmente, ter conseguido soltar as tais perolazinhas de cristal, que hoje tinha que ser.
Um enorme beijinho.
Foi uma honra!
EliminarBeijos, LP. :)
Ao que este blogue chegou!????
ResponderEliminarCitar LP. Maria tu... onde te foste meter?
Boa sorte com isso...
(...............por via das dúvidas...............................
...............deixa esclarecer..........................
......................................................................
................ sarcasmo ................................)
Eu já te conheço há resmas de tempo, lembras-te?
EliminarBeijos, miúdo. :)
Mesmo? Mas este blogue, só "abriu" em 2013!! :P :P :P
EliminarE os bolos acompanhados a chá, juntamente com uma Deusa, não conta? :P
EliminarBolos..? Não sei... eu não evito os doces :P :P
EliminarHá amores assim, pequeninos, de tão grandes e especiais que são.
ResponderEliminarBeijinho
E são os maiores.
EliminarBeijos, S.o.l. :)
Por vezes duvidamos da nossa sanidade mental, felizmente alguém abre a alma e percebemos que somos apenas de carne e osso, falíveis, mas capazes de atitudes difíceis que se provam acertadas. Revejo-me em ambas as orfandades e na recuperação da que foi possível :)
ResponderEliminarE às vezes também é bom deixarmo-nos (en)levar.
EliminarBeijos, Ness. :)
Perdi o meu pai à muito pouco tempo e a minha mãe faz hoje precisamente 86 anos,.
ResponderEliminarEstou comovida perante a dimensão deste texto.
um beijinho ás duas
Fê
Imagino, Fê...
EliminarUm abraço muiiitoooo forte.
Fê, o meu pai teria feito ontem (a 15, precisamente) 85 anos.
EliminarEnorme beijinho, abraçado.
Pequeno, grande e eterno amor.
ResponderEliminarFilhos, mães, um amor que de tão pequeno é grande.
EliminarBeijos, Luísa. :)
Antes de mais, obrigado pelo texto e pelo link. A blogosfera assim, é linda!
ResponderEliminarÉ assim que a concebo, partilhada!
EliminarBeijos, Ricardo. :)