quinta-feira, setembro 18, 2014

Verde, Cesário




Lúbrica 

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançastes, no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais,
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu neles, sempre, espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!


Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'


(Damian Loeb)

16 comentários:

  1. Carnal, devasso, lascivo, sensual este Cesário que de Verde neste poema não tem nada...)

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    1. Vermelho, diria, a cor deste poema! :)

      Beijinhos Marianos, Legionário! :)

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  2. "Teus olhos dizem mais"
    mas menos
    que poemas tão belos

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    1. Concordo, Rogério! (Mas concordar contigo não é difícil) :)

      Beijinhos Marianos! :)

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  3. Palavras quentes desenham um quadro carregado de sensualidade :)
    Beijinhos Maria :)

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    1. Um registo bem diferente, de Cesário.

      Beijinhos Marianos, I! :)

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  4. Isto é pornografia ó Maria,aiiiiiiiiiiiii;)

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  5. Muito bonito o poema do nosso Cesário Verde. O dueto musical também com os esplendorosos Jardins do Palácio de Versailles, um assombro ! Gostei também da foto.
    Admiro o teu bom gosto para as tuas publicações !!!

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  6. Bela vista...és tu, Maria?

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