A música
estridente acordou-a de um sono profundo. Enfiou a cabeça debaixo do edredão,
resmungando contra a concertina que ecoava, juntamente com a voz aguda de
uma mulher, entrando-lhe portadas adentro, a par com uma réstia de sol. De nada
lhe valeu tentar abafar o ruído. Maldita aldeia! Os altifalantes que, se bem se
recordava, eram colocados estrategicamente na torre da igreja, faziam chegar as
escolhas duvidosas da empresa contratada pelo mordomo da festa a quilómetros de
distância.
Era isso! A festa! Sorriu, inconscientemente. O que agora a
irritava, outrora fizera as delícias de uma menina. Escapulia-se bem cedo para
cirandar pelo adro da igreja a observar todos os preparativos. Rira-se com os
nós nos fios da aparelhagem de som, com o ar esgrouviado do padre, de pijama às
riscas e chinelos, a dar instruções para o arranjo das flores que as irmãs
Loureiro tinham deixado meio descompostas, e do trambolhão que o sacristão
dava sempre que subia ao manco e tosco banco de madeira, na tentativa
frustrada de limpar a fuligem das lamparinas do altar-mor. Sonhara com
príncipes e princesas quando os pares de namorados dançavam, elas de vestidos
com folhos, decotes mais atrevidos, o ouro típico das Minhotas nas orelhas e a
rodear-lhes o pescoço, descendo-lhes pelo colo, eles de fato e gravata, com o
cabelo cuidadosamente penteado, húmido de tanta brilhantina.
Mas o melhor
de tudo, o melhor mesmo, era o vestido novo que a mãe lhe mandava fazer na
Zulmirinha, a barriga a doer de tanto algodão doce, roscas e massapães e... o beijo que o José lhe roubara no escuro da barraca dos brinquedos de madeira!
Levantou-se,
arranjou-se a preceito, e percorreu o caminho de terra batida até que a música
lhe ferisse os ouvidos.
Há festa na aldeia!
ResponderEliminarBom Ano de 2017!
A partir de Janeiro, é um vê se te avias!
EliminarBeijinhos, Pedro, e um 2017 feliz. :)
oh céus, as coisas que agora avivaste! Beijo Tutu, bom ano!
ResponderEliminarMemórias, Manel! Memórias! Tocam sempre fundo.
EliminarBeijinhos, Stormy, e um ano para lá de bom. :)
haja festa e ouvidos para aguentar tal sinfonia e estômago para tais iguarias!
ResponderEliminarHaja, Ursinho!
EliminarBeijinhos :)
Há três dias ouvi ao vivo!
ResponderEliminarBeijos, Maria
:) Podem incomodar a sério!
EliminarBeijos, Isabel :)
Tão só um rabisco meu. Entendi. Rabiscos.
ResponderEliminarEntendi, ouvi, vi no beijo beleza.
Um ano bom cheio de recordações e deliciosas estórias no tom perfeito.
Teus, também. Entendi. :)
Eliminar(obrigada. muito)
Beijinhos, Agostinho, e um ano com muita poesia, cor, ternura e saúde. :)
Como eu gosto destas festas :)
ResponderEliminarbeijinho Maria
Confesso-te que já gostei mais... :)
EliminarBeijos, Laura :)
Um quadro perfeito. Ri-me do olhar esgrouviado do padre, do trambolhão do sacristão, deitei a língua de fora às beatas Loureiro, deliciei-me com o algodão doce...
ResponderEliminarQuem disse que não podemos voltar a ser felizes nos lugares onde já fomos felizes?
Um beijinho, querida Maria, e um bom ano :)
Fico feliz por teres sorrido com estas palavras, Miss Smile!
EliminarBeijocas repenicadas e um ano para lá de bom! :)
Perfeito e muito bem contado, Maria ! Parece-me estar a ver essas festas do "antigamente" nas aldeias ! :)
ResponderEliminar... E o Rui Veloso um dos meus preferidos e logo com esse "primeiro beijo" do qual ainda guardo a recordação ! :))
Beijinhos festivos ! :)
Obrigada, Rui!
EliminarTu és um homem positivo, só podias gostar de festas! E o Rui? Ah, deu voz a tanta bela poesia do Tê!
Beijinhos alegres, Rui :)
Já Camilo dizia ao mundo e às gente das cidades que no Minho, perpétuo jardim do mundo, os inventores de deuses teriam ideado as suas teogonias.
ResponderEliminarBom ano, Maria Eu.
Abraço
EliminarMaria,
Tu sabes mexer nas nossas recordações mais recônditas...
É como se as tuas palavras fizessem uma magia e nos levassem de volta ao doce desassossego dos longos Verões da nossa infância.
Impontual,
Depois de ler este teu comentário ainda me sinto mais orgulhosa por ser minhota!
(^^)
Beijinhos aos dois
Uma minhota sabe bem o sentir de outra minhota!
EliminarBeijos festivos, Afrodite :)
Impontual, as coisas que tu sabes! Um minhoto também sabe, não é? ;)
EliminarBeijinhos e um ano excelente :)
Memórias encantadoras.
ResponderEliminarÉ estranho quando as coisas que fizeram as nossas maravilhas, agora nos trazem dor de cabeça :)
Bom Ano de 2017!
Crescer estraga tudo, bolas! ;)
EliminarBeijos, mz, e um excelente 2017 para ti, também! :)
Todos os dias construímos memórias
ResponderEliminarBj
Sem dúvida, MA.
EliminarBeijinhos :)
Talvez não venha ao caso
ResponderEliminarmas ocorreu-me
as festas da cidade
e mais moderna mocidade
a que não faltam
memórias do átrio da aldeia
nem do beijo dado, nem da romaria
essa chamava-se Zulmira
esta chama-se Luzia
E até fica perto, sim. :)
EliminarBeijinhos, Rogério
Boa tarde, que venham as festas da aldeia e as boas recordações.
ResponderEliminarAG
Principalmente as recordações!
EliminarBeijinhos, AG :)
Um conto de uma humanidade tocante, com nuances ternas e jocosas muito interessantes.
ResponderEliminarEstá excelente, Maria, os meus parabéns.
Beijinhos.
~~~
Muito obrigada, Majo!
EliminarBeijos :)
O encanto das festas de aldeia é sempre maior nas nossas memórias... :)
ResponderEliminarA idade adulta traz-nos esse desencanto, sim.
EliminarBeijos, Luísa :)
... e houve baile e fogo de artifício, pressente-se!
ResponderEliminarbeijo
E não é que houve mesmo, Manuel?!
EliminarBeijinhos :)
Emprestei um bocadinho de vida à minha avó minhota, através do teu conto. Tão bonito :)
ResponderEliminarQuanto ao primeiro beijo, nem toda a gente tem boas memórias (blegh :))
Bom ano, Maria Poesia. E beijos!
Há, no Minho, uma ingenuidade enorme, ainda. As festas nas aldeias continuam assim, goste-se ou não, reproduzindo um passado que nos traz um mundo de recordações.
EliminarObrigada!
Beijos, Lindona, e um 2017 para lá de feliz :)
E viva o Minho, Maria.:)))
ResponderEliminarViva! :))
EliminarBeijinhos, Legionário :)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
ResponderEliminarMesmo que não nos demos disso conta.
EliminarBeijos, Graça :)
Aquilo que gostamos em criança, muitas vezes passamos a nao desejar ouvir/ver/sentir em adulto !!!
ResponderEliminarMuito bem escrito Maria e completamente conseguida esta publicação !
O nosso olhar também cresce e muda.
EliminarBeijinhos, Ricardo, e muito obrigada :)