(Maggie Taylor)
A menina Joana rodava nos dedos o rosário negro, tão negro como o vestido que lhe cobria o corpo desde que a conhecia. Tinha um olhar triste e sempre vago. Lembrava-se de a ver na missa das oito, com aquele rosário. Só o cabelo lhe parecia ter mudado, sendo agora branco. As crianças costumavam segui-la, em bando, cantarolando umas palavras cruéis: Bruxa preta e feia, vai-te desta aldeia!
Perguntara à mãe o porquê do luto da menina Joana e recebera uma resposta enviesada que misturava viagens, primos, cartas e tuberculose. Na altura, ficou-lhe a ideia de que tinham morrido todos os primos de Joana.
Sabia agora que, ainda menina, ela se tomara de amores por um primo direito, da mesma idade (dizem que teriam quinze anos, ambos) e que, quando os pais de um e de outro descobriram uma carta que ele lhe escrevera, o mandaram embarcado para o Brasil. Sem resistência física para aguentar a longa viagem, o rapaz começou a cuspir sangue e não resistiu, sendo o corpo atirado ao mar. Só uns meses depois chegou missiva à terra dando conta da desdita. Ouviram-se os gritos de Joana dias a fio e, quando voltou a sair, vestia o luto que nunca mais tirou.
A tristeza não são contas do meu rosário...
ResponderEliminarBeijinhos*
Ainda bem! :)
EliminarBeijinhos Marianos, Til! :)
Tristeza após tristeza. O que resta é o luto, o lutar a cada dia! abraços
ResponderEliminarA menina Joana desistiu de lutar mas não devia.
EliminarBeijinhos Marianos, Ives! :)
Quem mandou o rapaz para o Brasil não só o matou a ele, como a matou a ela. É muito triste, mesmo.
ResponderEliminarBeijinhos, querida Maria! :-)
Uma moral antiga que matou muita gente, por fora e por dentro.
EliminarBeijinhos Marianos, Susaninha! :)