terça-feira, julho 01, 2014

Um outro Verão

(Imagem de Lory Vrba. descubriendo Klímt BaLan)

Anoitece. Os ralos* ensurdecem o bater de asas dos morcegos que desde há muito saem para virem rasar o regato e matar a sede. Ignorando a hora, continuamos a brincar à macaca riscada no caminho de terra com um pau seco de videira.
"-Maria!! Oh Mariaaaaaaaa! Mariaaaaaaaa!", grita a minha mãe da porta da cozinha.
"-Isabel!! Oh Isabeeeeeeeel! Isabeeeeeeeel!", ecoa a voz da Dona Emília, a chamar a filha da varanda florida a sardinheiras.
"-Lina!! Oh Linaaaaaaaaaa! Linaaaaaaaaaa!", esganiça-se a Dona Joana, desde a janela do primeiro andar da casa mais alva da aldeia.
Em correria, apressamo-nos a ir para casa. Nem precisamos dizer até amanhã. Sabemos que é Verão e que as férias grandes nos juntarão de novo, dia após dia, desde o cantar matinal do galo até à noitinha.

*Insecto (Gryllus gryllotalpa) ortóptero da fam. dos grilos.



14 comentários:

  1. Verões da nossa infância, repletos de puras emoções:)

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  2. Que saudades das férias de verão...das brincadeiras do verão...dos amores de verão...retrocedo quase quarenta anos e olhando o passado fica-me a nostalgia mas...sinto-me feliz!
    "Campo de Flores": De Carlos Drummond de Andrade

    Deus me deu um amor no tempo de madureza,
    quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
    Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
    e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.

    Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
    e outros acrescento aos que amor já criou.
    Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
    e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.

    Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
    e cansado de mim julgava que era o mundo
    um vácuo atormentado, um sistema de erros.
    Amanhecem de novo as antigas manhãs
    que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.

    Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
    imensa e contraída como letra no muro
    e só hoje presente.
    Deus me deu um amor porque o mereci.
    De tantos que já tive ou tiveram em mim,
    o sumo se espremeu para fazer vinho
    ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.

    E o tempo que levou uma rosa indecisa
    a tirar sua cor dessas chamas extintas
    era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
    Onde não há jardim, as flores nascem de um
    secreto investimento em formas improváveis.

    Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
    para arrecadar as alfaias de muitos
    amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
    e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
    o sagrado terror converto em jubilação.

    Seu grão de angústia amor já me oferece
    na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
    os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
    e o mistério que além faz os seres preciosos
    à visão extasiada.

    Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
    há que amar diferente. De uma grave paciência
    ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
    tenha dilacerado a melhor doação.
    Há que amar e calar.
    Para fora do tempo arrasto meus despojos
    e estou vivo na luz que baixa e me confunde.


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  3. Bom dia,
    Recordar a infância que permanece dentro de nós, é reviver tudo de belo que a mesma nos ofereceu.
    Dia feliz
    AG
    http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

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  4. Respostas
    1. Somos sempre um bocadinho...

      Beijinhos Marianos, MA! :)

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  5. E o verão antigamente era tão grande...
    :)

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  6. Muitas semelhanças encontraremos, em todos nós, neste teu pequeno texto. As brincadeiras da nossa infância e que felizes nós éramos !!!

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    1. Havia meninos a jogar à macaca, às vezes! E nós iamos trepar ás árvores com eles... :)

      Beijinhos Marianos, Ricardo! :)

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  7. Naquele tempo, naqueles verões, as crianças eram mais crianças, eram mais felizes...
    Acordaste me uma enorme saudade adormecida.
    Beijinhos Maria.

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