Anoitece. Os ralos* ensurdecem o bater de asas dos morcegos que desde há muito saem para virem rasar o regato e matar a sede. Ignorando a hora, continuamos a brincar à macaca riscada no caminho de terra com um pau seco de videira.
"-Maria!! Oh Mariaaaaaaaa! Mariaaaaaaaa!", grita a minha mãe da porta da cozinha.
"-Isabel!! Oh Isabeeeeeeeel! Isabeeeeeeeel!", ecoa a voz da Dona Emília, a chamar a filha da varanda florida a sardinheiras.
"-Lina!! Oh Linaaaaaaaaaa! Linaaaaaaaaaa!", esganiça-se a Dona Joana, desde a janela do primeiro andar da casa mais alva da aldeia.
Em correria, apressamo-nos a ir para casa. Nem precisamos dizer até amanhã. Sabemos que é Verão e que as férias grandes nos juntarão de novo, dia após dia, desde o cantar matinal do galo até à noitinha.
*Insecto (Gryllus gryllotalpa) ortóptero da fam. dos grilos.
Verões da nossa infância, repletos de puras emoções:)
ResponderEliminarBelos, não eram, Legionário?
EliminarBeijinhos Marianos! :)
Que saudades das férias de verão...das brincadeiras do verão...dos amores de verão...retrocedo quase quarenta anos e olhando o passado fica-me a nostalgia mas...sinto-me feliz!
ResponderEliminar"Campo de Flores": De Carlos Drummond de Andrade
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.
Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.
Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.
Nostalgia...
EliminarBeijinhos Marianos, "Maria"! :)
Bom dia,
ResponderEliminarRecordar a infância que permanece dentro de nós, é reviver tudo de belo que a mesma nos ofereceu.
Dia feliz
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/
É bom, não é? :)
EliminarBeijinhos Marianos, AG! :)
Um dia seremos de novo crianças
ResponderEliminarBj
Somos sempre um bocadinho...
EliminarBeijinhos Marianos, MA! :)
E o verão antigamente era tão grande...
ResponderEliminar:)
3 meses de férias!! :)
EliminarBeijinhos Marianos, Rui! :)
Muitas semelhanças encontraremos, em todos nós, neste teu pequeno texto. As brincadeiras da nossa infância e que felizes nós éramos !!!
ResponderEliminarHavia meninos a jogar à macaca, às vezes! E nós iamos trepar ás árvores com eles... :)
EliminarBeijinhos Marianos, Ricardo! :)
Naquele tempo, naqueles verões, as crianças eram mais crianças, eram mais felizes...
ResponderEliminarAcordaste me uma enorme saudade adormecida.
Beijinhos Maria.
Eram(os) não era(mos)?
EliminarBeijinhos Marianos, Mafy! :)