( Flora Borsi)
O Grito
Se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse
se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer
se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
se ao menos esta dor sangrasse
Renata Pallottini, in 'A Faca e a Pedra'
Há um grito que se abafa na garganta , palavras que jorram no peito e não se articulam. Há dores que nunca serão ditas. Nunca serão sabidas. Se morrerem, será por serem sufocadas.
As letras estão todas no lugar certo
ResponderEliminare também as palavras que soletro
se ao menos a dor sangrasse
há dores que nunca serão ditas
Perfeito, trago isso dentro do peito...
Mas reparei na imagem:
se não tivesse vestido, tivesse fato
seria eu, de facto
São tempos de dor, estes que vivemos, Rogério. Não podemos ficar indiferentes.
EliminarBeijinhos Marianos! :)
E sufocadas, se não morrerem, também não voltam a ser o que foram..
ResponderEliminarPodem ficar ainda mais fundas... Esse é o perigo!
EliminarBeijinhos, meu amigo! :)
As dores são mortes pequeninas que estão sempre a acordar.
ResponderEliminarSão mesmo, Uvinha!
EliminarBeijinhos Marianos! :)
Til vive a gritar e a sangrar...E tu?
ResponderEliminarMaria gosta de palavras bem escritas...
Maria morre muitas vezes?
As palavras bem escritas são lenitivo para a dor. :)
EliminarMorro por vezes, sim, Til. Valha-nos a ressurreição!
Beijinhos Marianos! :)
isso de morrer é uma virtude.Til gosta de Maria Eu*
EliminarMaria Eu também gosta de Til! :))))
EliminarBoa noite, Maria
ResponderEliminarA dor sufocada, é especialmente terrível.
Mata devagarinho.
Bjo amigo
Boa tarde, Carmem! :)
EliminarTemos, felizmente, a capacidade de ir morrendo e ressuscitando da dor.
Beijinhos Marianos! :)
Eu acho que não sufocamos se não abafarmos as palavras na garganta, nem o grito que rompe o peito, ou as lágrimas ou o que quer que venha ao lume da nossa dor. É que depois de deixar a tempestade sair, a bonança toma-lhe o lugar. Pelo menos na maioria das vezes. Enfim, digo eu. :-)
ResponderEliminarBeijinhos e um abraço apertado, querida Maria.
Eu sou mais de gritar do que de sufocar. Dói ver tanta gente a sufocar, mesmo quando o grito é audível!
EliminarBeijinhos Marianos repenicados, Susaninha! :)