sábado, maio 03, 2014

Deixem-nos "ser"

(Paul Klee - Carnival Village)

Space Aliens Found Performing In Carnival 
Freak Shows 

In 1920, my great-aunt Jane
hopped a midnight freight
and ran away from home
to sing on a New York stage.
She was only sixteen.


The family took her photograph
off the grand piano
and never again spoke her name.
Later, they grew lonely for her voice.


At sixteen I shimmied down
the same drainpipe Jane had used
and took off to see the fair.


That's where I met
the light-bulb boy from Neptune,
the lizard-woman of the Moon,
the human razor blade from some galactic swirl
and other artists of the weird.


All of them had hopped
midnight rockets off their worlds.

All artists come from outer space.


Like my great-aunt Jane,
they're just looking for some place
where gravity won't hold them down.


So parents– let your children
have their voices. Let them
have their feathers and their flesh.
Let your daughters and your sons
have their pens, their paints,
their music and their hearts.


Let them tattoo jackals on their thighs
and dance with the lawn furniture.
Let them drum so loud that the sound
shatters watermelons in your garden.


Ask them to play on,
because these children come from Mars.
Tell them they're welcome here on earth.
Tell them it's good to be strange.
Tell them they don't need to hop that freight.


Douglas Gray (roubado daqui)


Alienígenas encontrados a actuar em espectáculos circenses de aberrações 

Em 1920, a minha tia-avó Jane 
apanhou o comboio de mercadorias 
e fugiu de casa para cantar 
num palco em Nova Iorque. 

Tinha apenas dezasseis anos. 
A família retirou a fotografia dela de cima do piano de cauda 
e o seu nome nunca mais foi pronunciado. 
Mais tarde, sentiram a falta da voz dela. 

Aos dezasseis anos eu deslizava 
pelo mesmo caleiro que Jane usara 
e escapava-me para ver o arraial. 

Foi lá que encontrei 
o rapaz-lâmpada de Neptuno 
a mulher-lagarto da Lua 
a lâmina de barbear humana de uma qualquer espiral galáctica 
e outros artistas do fantástico. 
Todos tinham apanhado o foguete da meia-noite para fora do seu mundo. 

Todos os artistas vêm do espaço 
como a minha tia-avó Jane, 
apenas procuram um lugar onde a gravidade não os prenda. 

Por isso, pais, deixem os vossos filhos 
ter voz própria. Deixem-nos 
ter as suas próprias penas, a sua própria carne. 
Deixem a vossas filhas e os vossos filhos 
ter as suas próprias canetas, as suas próprias tintas, 
a sua própria música e os seus próprios corações. 

Deixem-nos tatuar chacais nas coxas 
e dançar com a mobília do jardim. 
Deixem-nos tocar bateria tão alto que o som 
faça explodir os melões do vosso quintal. 

Peçam-lhes para continuarem a brincar, 
porque estas crianças são de Marte.
Digam-lhes que são benvindas à Terra. 
Digam-lhes que é bom ser estranho.
Digam-lhes que não precisam de apanhar esse comboio. 

Douglas Gray traduzido por Maria Eu


2 comentários:

  1. FABULOSO, Maria!!! Adorei o poema! :-)
    Beijos, bom domingo!
    (a parte dos melões a explodir no quintal é maravilhosa :-))
    Susana

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  2. :) Também adorei logo que o li! Aceitar a diferença, o sonho, a vontade de ficar mas sem "gravidade"... Difícil mas possível! :)

    Achei graça às tatuagens de chacais nas coxas, embora deva ser algo feio de doer! ;)

    Beijinhos Marianos, Susana, e boa semana! :)

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