"Ela sorriu-se de maneira vaga, os lábios imóveis, os dedos a tocarem o sapato. Distinguia-o mal, adivinhava-o mais do que via, nu, a desejá-la tão intensamente, «a desejares-me tão intensamente que me doía», o cigarro aceso, quase esquecido, «o cigarro apagado que esquecias de acender», e ela correu o olhar pelas paredes intensas, de um azul total, violento, para voltar de novo, ou apenas agora «e encontrar-te imóvel, como que encandeado, a chama crepitante a queimar-me as pernas», o azul das paredes a confundir-se com os olhos dela assim iluminados, como que luminosos na penumbra trémula do quarto com grandes sombras projectadas no vazio, sombras irregulares, esguias, quentes, «o Verão no qual mergulhava os braços assim inclinada, perto do tampo redondo, baixo, da cadeira onde a vela na palmatória de prata, que ali puseras», onde a vela se desfazia tão lentamente que «só mais tarde daríamos por isso e eu nos teus braços estremeceria no escuro daquela casa que nos era estranha». Então ele procurava o isqueiro que acenderia só para lhe ver os olhos muito abertos no escuro, a boca «a minha boca no teu ombro esquerdo, metade da cara escondida pelo lençol, neste momento ainda liso, esticado."
Maria Teresa Horta, in Ambas as Mãos sobre o Corpo
(Loui Jover)
... e olhavas-me, intensamente, a procurar ler nos meus olhos abertos, de um espanto sempre renovado, as ondas de prazer que subiam em marés vivas pelo meu corpo, a adivinhar os lábios trémulos, a febre na pele.
E se não é por momentos destes que vivemos, é por quais?
ResponderEliminarLindo, Maria!
Beijinhos :-)
Momentos intensos de desejo e de ternura paratilhada.
EliminarObrigada!
Beijinhos Marianos, Susana! :)
Nunca me atreveria a descrever o desejo, pois desejo sempre diferente sem parar de desejar. Há sempre um quê que muda, e de cada vez que muda é mais intenso, ou mais ansioso, ou mais terno, ou mais... se continuasse acabava por o descrever e eu comecei por afirmar que não me ia atrever... uma cena, não (me) chega para descrever uma emoção.
ResponderEliminarNunca descreve mas pode retratar um bocadinho de momentos que nos tocaram.
EliminarBeijinhos Marianos, Rogério! :)
O desejo floresce, a posse faz murchar todas as coisas...
ResponderEliminarSe a posse fôr consentida e mútua pode até intensificar o desejo. :)
EliminarBeijinhos Marianos, Legionário! :)
Momentos que se querem eternos.
ResponderEliminarDesejos sem fim.
beijos
Uma vdia inteira de sensações únicas! :)
EliminarBeijinhos Marianos, Pérola! :)
Vagarosos instantes
ResponderEliminarVagarosos e belos.
EliminarBeijinhos Marianos, MA! :)
Adoro o texto e a ilustração <3
ResponderEliminar:))) Maria Teresa Horta é maravilhosa e este jovem artista tem coisas muito interessantes.
EliminarBeijinhos Marianos e obrigada pela visita! :)