quinta-feira, agosto 20, 2015

Pessegueiro


(imagem daqui)


A casa continuava ali, aparentemente igual. Já secara a buganvília que emoldurava a varanda e a horta não era trabalhada. O pessegueiro, porém, erguia-se orgulhosamente verde, a copa a sombrear a janela daquele que um dia fora o seu quarto. Quando era menina de caracóis loiros tinha por costume plantar todos os caroços de pêssego depois de comer, em mordidelas ávidas, o fruto amarelo de laivos arroxeados. Um deles germinara e crescera aquela árvore, quem sabe para proteger a janela onde se debruçara a fumar os primeiros cigarros e a olhar o céu em sonhos de adolescente. Já há muitos anos que os pais se tinham mudado para uma casa maior, mais bonita e confortável, rodeada de árvores e vinhedos. Era naquela, no entanto, que ecoavam as suas gargalhadas de menina, o bater acelerado do coração na primeira paixão, aos 13 anos, as vozes alegres das mulheres da casa a cantar na cozinha. Tudo tão vívido que lhe chegou às narinas o cheiro dos biscoitos de limão alinhados em tabuleiro untado com manteiga, a cada Domingo.

Abandonadas, as paredes brancas escureciam, as contras  das janelas empenavam e as portas, entreabertas, deixavam entrar as trepadeiras daninhas que se iam enroscando nas lembranças sem as conseguirem estrangular.


22 comentários:


  1. E a mim, agora de repente, cheirou-me a bolo de chocolate e sumo de maçã.
    Cheiros que lembram amizades profundas.

    Beijos de água doce
    (^^)

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    1. Sabores de uma tarde de Verão entre amigas.

      Beijos, Esther Williams. :)

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    2. A Esther Williams, conheço !!!... é uma Sereia Lindíssima

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    3. Ricardo,
      Lindíssima e que eu adoro!
      Sou fã desde novinha desta actriz/nadadora.

      (^^)

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  2. Odores de infância

    Ah, e o pessegueiro

    As ruínas
    que nos entram pelas narinas
    nos penetram a alma e a inundam de cheiro

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    1. Os cheiros são um forte indutor de recordações.

      Beijos, Rogério. :)

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  3. Na melâncolia dos pessegueiros das nossas vidas, vive uma parte de nós, que quase sempre, traz cheiros bons.

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  4. Memórias que podem ser reavivadas por um qualquer pormenor.
    Ou pessegueiro.
    Bfds

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    1. De vez em quando é bom regressar ao passado.

      Beijinhos, Pedro. :)

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  5. :) fizeste-me lembrar a minha infância e as visitas diárias aos pessegueiros na esperança de que já tivessem o tamanho e
    a maturação certas para os podermos comer. Velhos tempos, bons tempos. Bj

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    1. E quando os tirávamos verdes, na ânsia da prova?

      Beijos, GM. :)

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  6. Maria, encanta-me as manhãs de verão, cheiro fresco a erva cortada que me trazem esperança com odores de infância conhecidos por lembranças!

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  7. Memórias doces de menina! Também tinha o hábito de enterrar os caroços na terra.
    Gosto da imagem e da banda sonora.
    Bom fim-de-semana, Maria!

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  8. Doces recordações, Maria. Lembrei-me também do meu quarto cor-de-rosa, da longa varanda onde dispunha as bonecas defronte para o quadro como se de uma sala de aula se tratasse e do cheiro da maresia. Obrigada por me transportares, através do teu texto, para outros tempos.
    :))

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    1. Bonecas! Do que me foste lembrar! :))))

      Beijos, Maria, e obrigada. :)

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  9. Por pouco não saio daqui, a caminho da cozinha, para fazer biscoitos de limão... :)

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    1. Sabem bem, os biscoitos e as recordações.

      Beijos, Luísa. :)

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  10. As memórias de infâncias/juventudes passadas em casas que nos são queridas, são sempre recordações agradáveis e nostálgicas, mas perduram para sempre ! Gostei de tudo !

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