Filomena levanta-se a custo do sofá ao chamamento da filha
para a mesa do almoço. Ampara-se com as duas mãos nos braços forrados a tecido
verde musgo, balança um pouco o corpo e, murmurando “oupa”, ergue-se. Vai
andando devagar, a mão direita espalmada nas costas. Doem-lhe “as cruzes”.
- Mãe! Oh, mãe! Então? Olhe que a sopa arrefece!
A filha não se dá conta como lhe é penoso andar, agora, nem
que seja aquele bocadinho de corredor, da sala à cozinha. Mas é bom tê-la ali,
ainda que por pouco tempo. Nas férias vem sempre e alivia-lhe a tarefa de
cozinhar. Já pouco faz, comparando com o tempo em que os horários do marido a
forçavam a pôr o pequeno-almoço na mesa às 6:00 horas, o almoço ao meio-dia e o
jantar às 19:30. As filhas, essas tinham abalado cedo, logo que fizeram a
escola primária. Na aldeia não havia como estudarem. Doutoras, as suas meninas.
Deram-lhe netos e bisnetos que vinham de quando em vez alegrar a casa grande,
agora vazia de traquinices e jogos infantis. Intimamente, porém, cansava-se
depressa de tanta confusão. Os mais pequenos não se aquietavam com nada a não
ser com aquelas tabletes, ou lá como lhes chamavam, aquelas maquinetas fininhas
ondem se via tudo, até o primo Zé, desde Berlim. Muito bonitos mas
atrapalhavam-lhe o sono da tarde e insistiam em ver desenhos animados na hora
sagrada da telenovela (perdera o primeiro beijo de Paulo e Mariana). E, afinal, nem lhe davam os beijos todos que ela lhes
pedia, correndo para os braços da mãe.
- Mamã, a bivó está-me sempre a chatear!
Era bom, mas pouco de cada vez.
Que os anos passem por nós, mas que nunca nos faltem os beijos todos que lhes vamos pedindo.
ResponderEliminar:)
Beijos, Marioska :)
E que haja sempre uma criança a correr nos corredores de casa. :)
EliminarBeijos, Lindinha azul. :)
O gosto que tenho ao vê-los chegar é tanto como o gosto com que os vejo partir. Deus lhes dê boa viagem e a mim sossego!
ResponderEliminarBoa prosa, Maria.
Bj .
:))))
EliminarObrigada, Agostinho!
Beijos. :)
Vida tão (pouco) estranha
ResponderEliminarquando vierem os bisnetos, será assim. E chama-se Teresa
A tua Teresa é uma miúda, ora! :D
EliminarBeijos, Rogério. :)
Quem já teve ou tem uma avó assim...eternas figuras humanas que queremos sempre homenagear, contemplando com carinho os cabelos brancos, o profundo olhar, as rugas na fronte e na face, sinais da experiência e memória de tantos anos vividos.
ResponderEliminarBoa semana, Maria! :)
Amor, sempre ele.
EliminarBoa semana para ti também, Legionário. :)
A vida de todos os dias. Engraçada, apesar de cansativa.
ResponderEliminarBeijos, Maria.
É isso mesmo, Isabel, a vida de todos os dias.
EliminarBeijos. :)
O caminho que esperamos levar, ser avós. Dizem que é maravilhoso. Eu espero lá chegar. Beijinhos Maria :)
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