segunda-feira, maio 11, 2015

Memórias num armário

(Alex Alemany)


Havia um armário no fundo do quarto grande onde, de quando em vez, ecoavam estranhos ruídos. Pareciam vozes, risos, choros, gritos... Um dia, disseram-lhe que aquele era o local onde Rosalina guardava as suas memórias. Catalogava-as por sentimentos: a Ternura, o Amor romântico, o Amor carnal, A Tristeza, A Alegria, A Dor excruciante, ... Tinha, ainda, o cuidado de ir deixando bolas de naftalina pelo meio delas, não fosse alguma traça esburacá-las, amputando-as dos detalhes. Cuidava, também, que a porta estivesse fechada com duas voltas. Afinal, as memórias eram suas e não as queria vividas por mais ninguém.


27 comentários:

  1. Tantas são as Rosalinas

    de rastos nos armários

    ResponderEliminar
  2. Por vezes sinto que as traças me tomam contam da memória. Há nela buracos que não consigo recuperar. Devia ter arranjado bolas de naftalina, é o que é... :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estou como tu, Luísa! Raio de traças de memória!

      Beijos. :)

      Eliminar
  3. Ninguém nos toma, ou vive as nossas memórias. Só as perdas de memória nos levarão para o limbo do vazio, Maria. Já o nosso legado será transmitido, quiça através de uma peça que ficou no armário. Gostei muito Maria:)
    Beijinho querida :)

    ResponderEliminar
  4. Querida Maria Eu,
    Diria que a naftalina é desnecessária, tanto porque as memórias podem ser rememoradas mas não usurpadas, quanto porque as traças virão apesar dela. Que sera sera.
    Boa noite,
    Outro Ente.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A inevitabilidade da perda... Temo-a!

      Beijos, caro Ente, e obrigada pelas sempre simpáticas e adequadas palavras. :)

      Eliminar
  5. A idade não perdoa...e muitas memórias vão-se apagando lentamente,
    Beijinho, Maria!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois vão, Ricardo. Fechamo-las num armário? :)

      Beijos. :)

      Eliminar
  6. Não invejo o armário da Rosalina.
    Eu guardo no meu baú, sem qualquer naftalina
    As memórias rabiscadas
    ou ilustradas
    lançadas a esmo, ao "deus-dará"
    Mas...
    Quando as procuro, elas estão lá
    e o baú é aberto
    como não podia deixar de ser
    Quer abrir? Pode espreitar! Pode ver!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Gosto dessa tua abertura a partilhar memórias, Rogério!

      Beijos. :)

      Eliminar
  7. É bom que a naftalina seja de boa qualidade. Para que as bolas só tenham que ser substituídas de longe a longe :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eheheheheh! Senhor, de que bolas falais vós? :P

      Beijos, Ness. :)

      Eliminar
  8. É contraditório sabes...

    Fechamo-as num armário para não as perder (e para nos protegermos também). Mas tudo aquilo que encerra acaba por se ir perdendo lentamente. As memórias não são estáticas, não conseguimos prendê-las, segurá-las. O tempo encarrega-se de modificar a nossa visão sobre elas ou, tantas vezes, apagar parte essenciais da história que não queríamos esquecer.

    Um armário (eu uso o termo gavetas) não nos salva as memórias. A prova é de que cada vez que o abres fica a sensação de que falta alguma coisa.

    Beijinho Maria!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Gosto de revisitar as minhas memórias. Gosto, até, de partilhá-las.

      Beijos, S.o.l. :)

      Eliminar
  9. Esqueletos dos outros nos armários, não obrigada.
    Já me basta o meu próprio esqueleto, que carrego todos os dias.
    Bom dia Maria. Estás boa?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também dispenso esqueletos. (tens sorte que eu carrego o esqueleto mais as banhas, pá)

      Boa noite, querida Uvinha, estou boa e tu? :)
      Beijo.

      Eliminar
  10. Mais uma vez... Venho aqui e fico a contemplar, a tua linda imagem "sui generis", a ler o teu excelente texto e a ouvir esse fandango agradabilíssimo !!! Obrigado Maria

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E mais uma vez, resta-me agradecer-te! :)

      Beijos, Ricardo. :)

      Eliminar
  11. E tantas são as memórias que guardamos, apenas nossas!
    Lindo Maria.

    ResponderEliminar
  12. Se os abafos e afagos valerem a pena não há traça que lhe ponha o dente .
    Bj Maria

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olha que há algumas traças que são do piorio! ;)

      Beijos. :)

      Eliminar
  13. Desmemoriada como ando, acho que já lá nem vai com armários ou portas fechadas com duas voltas!

    Adorei o texto, Maria, e o acompanhamento musical.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Somos duas, então! :)
      Muito obrigada!

      Beijos, Maria. :)

      Eliminar
  14. O trilho, por vezes, leva-nos ao lugar errado.
    Por vezes :)

    ResponderEliminar