(Giovanni Santiago)
Por mais que quisesse, não subia aquele lanço de escadas sem que o coração disparasse e a respiração ficasse acelerada, assomando-lhe uma "zoada" à cabeça que a apressava a sentar-se no escabelo que se encontrava logo à entrada da cozinha, em frente à porta de entrada. Aquele escabelo, dizia-lhe a avó, tinha vindo num carro de bois, ajoujado de arcas com lençóis bordados, cobertores, panos de renda, loiças finas e um tear. Sentada no meio do enxoval, viera também a visavó Madalena, mulher de peitos fartos e olhos vivos, mandada pelos pais, lavradores abastados, para casar com o menino Arturinho, rapaz magro e melancólico que se fechava horas a fio na sala dos fundos a ler e a pintar telas com paisagens imaginárias.
Conta-se que Arturinho tinha feito uma enorme birra quando o informaram da vinda de Madalena, enclausurando-se com uma resma de livros, uma caixa de gouaches, tintas pastel, pincéis e umas quantas telas em branco, abrindo apenas uma fresta da porta para receber o prato de comida que a Arminda, sua ama de leite, lhe levava às escondidas.
Ficaram, assim, Madalena e Arturinho a dormir sob o mesmo tecto sem serem apresentados. Havia, porém, uma janela na sala de reclusão e foi dela que viu, ao terceiro dia, uma rapariga voluptuosa, de sorriso aberto, a correr com o Leão, saia arregaçada, presa na mão esquerda, enquanto com a direita afastava o cabelo revolto dos olhos. Ora, o Leão não era cão para fazer amizade por dá cá aquela palha, quanto mais deixar-se enlear em brincadeiras com uma qualquer desconhecida.
Toma-se de amores pela moça, Arturinho, e sendo esta ninguém mais do que a sua prometida, o casório não tardou. Madalena também tinha achado graça ao magricela que assobiara ao cão da janela da casa grande, decidindo, ao descobrir que era ele o seu noivo, entregar-lhe o coração.
Fora naquele escabelo, onde recuperava das subidas, que os dois se tinham sentado juntos pela primeira vez, trocando palavras tímidas, talvez o primeiro beijo, com o Leão deitado aos pés de ambos.
Estará a felicidade na aceitação do inevitável ou num golpe de sorte do destino?
ResponderEliminarQuem sabe numa mistura de ambas?
EliminarBeijos, Ness. :)
Era tudo muito mais fácil se sempre assim acontecesse, que as nossas escolhas e decisões fossem assim tão simples. Adorei :)
ResponderEliminarPois era, GM!
EliminarMuito obrigada!
Beijos. :)
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem! :))
ResponderEliminarHoje, tocaste, particularmente, uma corda sensível...
EliminarBeijos, Legionário. :)
(lindo, isto!)
ResponderEliminarE mais, este conto prova
as leis da física
os diferentes atraem-se
A química é dada por um intermediário
(o que, também, não é raro)
Foi um cão? Podia ser um gato, um pássaro, um cágado...
(obrigada, muito!)
EliminarO amor é inesperado.
Beijos, Rogério. :)
Ah! Leão! Ou melhor, leoa.
ResponderEliminarQuem escreve assim, só pode ser boa...
pessoa.
:)
Acho que sou, Rui, boa pessoa.
EliminarBeijos. :)