José vira Maria pela primeira vez numa feira semanal. Rapariga trigueira, com uma trança a contornar-lhe o rosto de olhos grandes e expressivos, olhara-o sem intenção e corara, ao sentir que era observada.
Fora amor à primeira vista e, depois de um namoro de alguns meses, José atreveu-se a falar com o pai, pedindo-a em casamento.
Houve boda e a lua de mel foi passada no quarto, a não ser para irem buscar qualquer coisa para comer à cozinha, não se largavam. Maria nem imaginava que se podia gostar tanto de não sair de um quarto durante 3 dias!
Nem um ano passou quando nasceu Inês. Os dias corriam mansos, mas
humildes. Eis senão quando se anunciou outra criança. Fizeram as contas à vida.
Dezembro estava já ao virar da esquina e havia que viajar se era para mudarem
de terra. Não foi de burro, a mudança, que o destino era distante e tinham que
levar os parcos haveres para a casa prometida. O velho camião do António Chapo
acomodou a família e Maria, entalada entre José e a porta, olhava a paisagem a
desembrulhar-se, feita de matas, rios, campos de milho, enquanto Inês
dormia sobre a sua barriga inchada de 5 meses.
Chegados, era noite, só as estrelas brilhavam e, não foram os faróis,
nem para estenderem os colchões teriam luz.
Adezembrou. José saía de madrugada e voltava para jantar, exausto do
novo trabalho. Quase nem se dava conta do quanto Maria embarrigava. Naquela
noite de 24, disse-lhe ela: Ai, José, que vai nascer!
E foi ele, José, que ajudou ao parto de uma menina pequena, em
esperneios e choros tão altos que as vizinhas vieram e trouxeram mantas
tricotadas, leite com mel e caldos de galinha. E todas diziam que aquela menina
tinha uma grande força, e haveria de ser uma grande mulher.
Ana, foi o nome que lhe deram. Ana, a guerreira, assim a conheceram.