quinta-feira, novembro 12, 2020

Estranhava-se

 


Eram as folhas. As folhas tinham caído sem pré-aviso e faziam um ruído debaixo dos pés dos transeuntes que soava ao que mil coelhos produziriam a comerem, cada um, uma cenoura.

Irritavam-na ruídos que se sobrepunham aos habituais: vozes, risos e choros de crianças, um ou outro automóvel, a chuva a bater nas vidraças…

Talvez fosse da cada vez mais insidiosa solidão, fruto de um tempo a que chamavam de “novo normal”, essa irritação. “Novo normal”! Como se se pudesse apelidar de normal, fosse ele novo ou velho, à morte da vida social, à separação das famílias, à reclusão forçada.

Estranhava-se. Estranhá-la-iam?


(Alex & Will Delta Blues - Hard Times)

14 comentários:

  1. O novo normal
    é velho
    veja-se a solidão da jarra
    no quadro (futurista) de Hopper
    (certamente criado antes da pandemia)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Hopper retrata a solidão como ninguém.

      Um abraço, Rogério. :)

      Eliminar
  2. O novo normal é a desculpa para oss que nos fizeram sofrer, prendendo-nos em casa!!
    Bjs e ótimo fim de semana!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oxalá o sofrimento compense, PDR!

      Beijinho e bom Domingo. :)

      Eliminar
  3. Isso do novo normal...
    Não consigo porenquanto :)

    ResponderEliminar
  4. Há dias em que todos nos estranhamos...

    ResponderEliminar
  5. Quadro excepcional, palavras a mirar através da janela e uns "blues" magníficos !

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada pelas tuas sempre atentas palavras, Ricardo!

      Beijinho :)

      Eliminar
  6. Hopper...
    a solidão pele e osso
    numa ripa sentada
    nem desespera, espera
    a dormência da morte
    E as folhas tombando
    uma a uma no chão
    a despir o tronco,
    o que são?
    Os pés frios turfados,
    e a primavera não tarda
    a pedir substrato
    o que são?

    O medo e o frio e o agora
    a chuva a delir a casca
    coberta de líquens, musgo!

    Normal paranormal novo normal
    o que são?
    Que préstimo hão-de ter
    e ver no musgo
    se nem presépios há

    Beijo, Maria Eu.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tão bom ler-te! Tens a palavra guardada para o momento certo!

      Beijinho, Agostinho, e obrigada! :)

      Eliminar