sábado, dezembro 03, 2016

Do alheamento da realidade





  • (Daniel Jean-Baptiste)



  • "Dois jovens peixes vão nadando, e a certa altura encontram um peixe já velho que vai em sentido oposto, lhes faz um gesto de saudação e diz: "Vivam, rapazes! Que tal está a água?". Os dois peixes jovens nadam mais um pouco e depois um vira-se para o outro e diz: "Que raio de coisa é a água?"."

    Do manifesto A Utilidade do Inútil, de Nuccio Ordine.


    Moves-te a cada dia num alheamento da realidade em que imerges. Talvez isso signifique que a aceitas tal como te é servida, sem te aperceberes que não contas para a elaboração do cardápio.



    26 comentários:

    1. Ou exactamente por nos apercebermos que não contamos para a elaboração do cardápio, mas nada possamos fazer para contrariar.

      Beijinho Maria TU

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    2. A verdade é que somos animais de hábitos !... e há tantos deles em que estamos naturalmente inseridos que nem nos apercebemos que são uma realidade, distinta, visível ou sensível, palpável ou não e no entanto nos passa despercebida ! E curiosamente, não poderemos passar sem ela ! ... e como dizes, quantas vezes o cardápio é tão bem recheado !

      Um Bom fim de semana, Maria e um beijo escolhido do cardápio !

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      1. Provavelmente, deixamo-nos levar pala corrente por ser mais fácil do que nadar contra ela.

        Beijinhos, Rui :)

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    3. Tão alheados vamos que nem nos damos conta de nada. Quando damos, pode ser tarde.

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      1. Que a mensagem seja essa e que possa ser entendida, Luísa!

        Beijos :)

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    4. Alheados andamos todos, preocupados muitas vezes com coisas que não nos dizem nada !
      Malvada tecnologia !!!... :(( No fundo se não fosse esta "malvada" tecnologia, não conheceria os excelentes seres humanos que conheço há mais de 4 anos !

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      1. A tecnologia só nos aliena se deixarmos. (Verdade, Ricardo.)

        Beijinhos :)

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      1. E será que podemos ser felizes alheados? Que felicidade será aquela que não vê?

        Beijos, Laura :)

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    6. Pois é...
      nem nos apercebemos disso,
      eu, peixe, me confesso.
      Quando penso nisso,
      como agora,
      vejo num flashback
      as vezes, tantas, que escapei.
      Ao anzol,
      o pior é a rede,
      que eu sei.

      E se o alheamento
      for a nossa cura?
      Por exemplo:
      uma bala vertiginosamente animada,
      com remetente (in)determinado
      e endereço preciso
      que por um acaso inexplicável
      se alheia de nós
      e falha.

      Bj, Maria.

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      1. Por vezes, gostava que assim fosse, Agostinho, e o alheamento fosse a nossa cura. Contudo, que cura pode ser aquela que nos cega, nos ensurdece e nos emudece?

        Beijinhos :)

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    7. Que dureza!

      Às vezes sabe bem ter memória de peixe :)

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    8. Maria, gostei imenso deste Post, e deixo aqui esta pérola de Fernando Namora:

      Alheamento


      Meu corpo estiraçado, lânguido, ao longo do leito.

      O cigarro vago azulando is dedos.

      O rádio… a música… e as folhas murchas

      caindo nas mãos do Outono.

      E a tua presença que esvoaça

      em torno do cigarro, da música, do Outono…



      Ausência, minha doce fuga!



      Estranha coisa esta, a poesia,

      que vai entornando mágoa nas horas

      como um orvalho morno escorrendo dos vidros

      numa tarde incorpórea…



      Termino com a invocação à mãe enquanto porto de abrigo para as desilusões da vida e a desistência de as enfrentar:





      E sem uma crosta que me tornasse rijo,

      nem lutei nem vivi;

      fiquei quieto, absorto, em lágrimas

      — e lá ao fundo esperavam-me valados

      e chacais rancorosos.

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      1. Bem precisamos de poesia bem "acordada" como esta. Alheadamente nos estranhamos da vida.

        Beijinhos, Legionário :)

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    9. Tristes e coitados os alheados
      a fingir de gente

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      1. É isso mesmo que penso do alheamento. Triste.

        Beijinhos, Puma :)

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    10. Bom texto, o alheamento ás vezes é total, mas não precisa ser assim, bjs e boa semana

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    11. A nossa vida já é muito isso - hábitos consolidados, repetição quase automática de gestos.
      É saudável, todos os dias, fazer algo diferente.
      Boa semana

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      1. Até podemos cumprir uma rotina. Ela salva-nos, também. Porém, fiquemos alerta ao que se passa para além de nós.

        Beijinhos, Pedro :)

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    12. Tão distraídos do que nos rodeia, por vezes...
      Uma boa semana.
      Beijos.

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      1. E, quando menos esperamos, a realidade cai-nos em cima...

        Beijos, Graça, e obrigada :)

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