(LASZLÓ LAKNER)
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
in «Uma Grande Razão», de Mário Cesariny
Quando calas as palavras que te sobem, impulsivas, à boca
Quando as sufocas, julgando-as, manietando-as
ali mesmo, aprisionadas onde foram pensadas
Quando acabas por matá-las, porque incómodas
enterrando-as bem fundo, uma e outra vez
És tu que imerges na escuridão de Elsinore
no cortejo desolado e infausto de Hamlet.
Maria Eu
ResponderEliminarThank you for starting my day with such
beautiful music.
Have a wonderful weekend.
xx
It's a shame you can't understand Portuguese. Cesariny is an extraordinary poet.
EliminarThank you, Rick!
Kisses :)
A força das palavras guardadas nas pedras de Elsinore trazida aqui pela mão de Maria. O confronto entre Cesariny e a própria Maria Eu (ela) resultou num excelente trabalho. E quem quiser mergulhar em Hamlet... - parece ser o convite subjacente.
ResponderEliminarBj.
Fico-te grata, Agostinho, pelo incentivo constante das tuas palavras!
EliminarBeijinhos :)
Gostei da complementaridade. Veio-me à ideia o Cesariny a acender um aquiescente cigarro. Gostei também das violas, não conhecia o arranjo, o tempo é mais rápido e fica bem com as violas. Beijos.
ResponderEliminarSabes que também me vem sempre à ideia o Cesariny a acender esse cigarro quando o leio?
EliminarBeijinhos, Luís :)
Entre nós e as palavras
ResponderEliminarum cordão umbilical
Bj
Sejam ditas, pensadas ou escritas.
EliminarBeijinhos, MA :)
É preciso fazer valer nossa opinião, desejos e sentimentos, para isso precisamos das PALAVRAS,
ResponderEliminarboa semana amiga bjs
São vitais, Zulmira!
EliminarBeijos e um bom fim-de-semana :)
No dia em que se aprisionarem as palavras-adubo
ResponderEliminaras palavras-semente
o nosso dever é libertá-las
falando-as, escrevendo-as
Livres, as palavras, sempre!
EliminarBeijinhos, Rogério :)
Gostei deste "diálogo" com Cesariny. Dois poemas que se complementa em intertextualidade. Parabéns!
ResponderEliminarUm Natal BOM e um Ano Novo MELHOR.
Beijos.
Obrigada, Graça, por tudo. Pela presença e pelas palavras!
EliminarBoas Festas!
Beijos :)
entre nós e as palavras
ResponderEliminarhá dores de amores pungentes
Beijo
Que ferem como espadas mas deixam as memórias de outros dias.
EliminarBeijinhos, Black Angel :)