Tempo
O tempo é um velho corvo
de olhos turvos, cinzentos.
Bebe a luz destes dias só dum sorvo
como as corujas o azeite
dos lampadários bentos.
E nós sorrimos,
pássaros mortos
no fundo dum paul
dormimos.
Só lá do alto do poleiro azul
o sol doirado e verde,
o fulvo papagaio
(estou bêbedo de luz,
caio ou não caio?)
nos lembra a dor do tempo que se perde.
Carlos de Oliveira, in 'Colheita Perdida'
O tempo devora-nos os dias como Chronos devorou os filhos. Prisioneiros de relógios simbólicos em tarefas que se multiplicam, troca-se temporariamente o prazer de viver, de escrever, de ler,... Até já! Vou parar de viver por um bocadinho...