quinta-feira, maio 29, 2014

Tempo

(Chronos, God of Time by Michal Boubin)

Tempo  

O tempo é um velho corvo
de olhos turvos, cinzentos.
Bebe a luz destes dias só dum sorvo
como as corujas o azeite
dos lampadários bentos.

E nós sorrimos,
pássaros mortos
no fundo dum paul
dormimos.

Só lá do alto do poleiro azul
o sol doirado e verde,
o fulvo papagaio
(estou bêbedo de luz,
caio ou não caio?)
nos lembra a dor do tempo que se perde.

Carlos de Oliveira, in 'Colheita Perdida'




O tempo devora-nos os dias como Chronos devorou os filhos. Prisioneiros de relógios simbólicos em tarefas que se multiplicam, troca-se temporariamente o prazer de viver, de escrever, de ler,... Até já! Vou parar de viver por um bocadinho...

quarta-feira, maio 28, 2014

A palavra



(Max Gasparini)

    En el principio
     
    Si he perdido la vida, el tiempo, todo
    Lo que tiré, como un anillo, al agua,
    Si he perdido la voz en la maleza,
    Me queda la palabra.

    Si he sufrido la sed, el hambre, todo
    Lo que era mío y resultó ser nada,
    Si he segado las sombras en silencio,
    Me queda la palabra.

    Si abrí los labios para ver el rostro
    Puro y terrible de mi patria,
    Si abrí los labios hasta desgarrármelos,
    Me queda la palabra.


    Blas de Otero 
     

    Que nunca emudeçamos. Haverá sempre quem escute!

terça-feira, maio 27, 2014

Voo

(Joan Miró - mulher e pássaro)


"(...) Estávamos atentos às matérias e sopros do mundo expressos em imagens e vozes autónomas. Nem sequer nos apercebíamos bem de que as noites separavam os dias: era verão. O espaço, os encontros, as caras, o cabelo das mulheres, roupas estendidas a suar, o vento amplo, grandes pedras, grandes girassóis, a fruta amarela, os bichos. Crescíamos no meio do atordoamento de flores e animais, crescíamos assim. (...)"

Herberto Helder, in Servidões 



Um rebuliço de asas, gorjeios em voos picados, rasando praias... Deixar um rasto na areia molhada, batida pelo vento Norte.

segunda-feira, maio 26, 2014

Bailarina


(Edgar Degas)


POR DELICADEZA 

Bailarina fui 
Mas nunca dancei 
Em frente das grades 
Só três passos dei 
Tão breve o começo 
Tão cedo negado 
Dancei no avesso 
Do tempo bailado 

Sophia de Mello Breyner Andresen




Lembras-te, ainda, dos sonhos de menina? Do simular de danças frente ao espelho, em bicos de pés, fingindo pontas de bailarina?

domingo, maio 25, 2014

Luto

(Estudo para Guernica - Pablo Picasso)
 
Luto, por uma Europa onde grassa o comodismo, ao lado da ameaça maior dos extremismos que a História diz acabarem mal.


sábado, maio 24, 2014

O sonho é uma ponte

(Ana Hatherly)

O sonho é a ponte
Que vai do infinito ao infinito,  
É a medida sem comparação,  
É a presença do que se imagina.
Sonhar talvez só seja  
Reconhecer o que já nem a alma sinta
Nem o próprio pensamento veja.


Ana Hatherly


 
E, de repente, vejo-me a sonhar a cada dia...

sexta-feira, maio 23, 2014

Forte



 (HANGING OUT ON THE BROOKLYN BRIDGE, 1914 - Photograph by Eugene de Salignac)

Julgas-te fraco até veres quanto o outro precisa de te dizer como é forte! 

 

quinta-feira, maio 22, 2014

Pas de deux solitário

(Lourdes Castro)

"O que é o amor?" pergunta-lhe, enquanto vai partindo o bife.

"O amor é chuva de Verão a deixar cheiro a terra molhada.
O amor é mar encrespado a invadir a praia.
O amor é céu azul que fere o olhar de tanta luz.
O amor é epicentro de sismo 9 na escala de Richter.
O amor é arritmia sem concerto por cateterismo.
O amor é dança de acasalamento do pássaro-lira.
O amor é uma súbita cegueira, um delirium tremens.
O amor é espera com encontro no fim.
Às vezes, o amor é o que não deveria ser: um pas de deux em que um dança enquanto o outro apenas lhe segura, a medo, a ponta dos dedos." responde, sentindo-lhe a mão a segurar-lhe, a medo, a ponta dos dedos sobre a mesa da cozinha.

 

Das categorias das lágrimas

(Lágrimas - I fucking love science)

Rose-Lynn Fisher fotografou lágrimas de tristeza, de alegria, provocadas pelo riso e, outras, pela irritação (ao cortar cebola, por exemplo) vistas ao microscópio.
De acordo com o post no perfil de FB do I fucking love science, as lágrimas não são apenas água. São compostas por água, sal, anticorpos e lisozimas (uma proteína tridimensional). Existem três tipos principais de lágrimas - basais, de reflexo e de choro e podem apresentar formas incrivelmente diferentes quando evaporadas e observadas ao microscópio.


Que tipo de lágrimas choras? Que traços deixam no teu rosto? Que forma tomam, à luz crua do microscópio?

quarta-feira, maio 21, 2014

Amor


(Tolouse Lautrec)



A man and a woman lie on a white bed.
It is morning. I think
Soon they will waken.
On the bedside table is a vase
of lilies; sunlight
pools in their throats.
I watch him turn to her
as though to speak her name
but silently, deep in her mouth--
At the window ledge,
once, twice,
a bird calls.
And then she stirs; her body
fills with his breath.

I open my eyes; you are watching me.
Almost over this room
the sun is gliding.
Look at your face, you say,
holding your own close to me
to make a mirror.
How calm you are. And the burning wheel
passes gently over us.



Louise Gluck


Olha-o nos olhos quando se quer ver. Os olhos dele são o seu melhor espelho porque, neles, é sempre bela.

terça-feira, maio 20, 2014

O dia certo

(Lourdes Castro - anjo)


Horário do Fim

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"



 

 Morre-se a cada dia sem que seja o dia certo e, ao chegar o dia certo de morrer, melhor seria que o não fosse.

segunda-feira, maio 19, 2014

Futuro



 (René Magritte)

Quando vieres, não conjugues o verbo amar no presente do indicativo. Não digas "amo-te"! Diz, antes, "amar-te -ei"!


domingo, maio 18, 2014

Coração

 (Ryoko Tajiri)

Viram-na diferente, não ria, não chorava, nenhum músculo da cara se mexia.
Um dia, um vizinho vislumbrou-a enquanto se despia, na contraluz das cortinas leves que velavam a janela do quarto. Havia um buraco no lugar do coração.
Ninguém sabia que, há algum tempo, não sabendo o que servir para o jantar, tinha arrancado o coração para o dar a comer.

sábado, maio 17, 2014

Representações


(René Magritte)

“Eu coloquei em frente de uma janela, vista do interior de um quarto, uma pintura representando exactamente a parte da paisagem oculta pela própria pintura. Portanto, a árvore representada na pintura escondia a árvore localizada por trás dela, fora do quarto. Ela existia para o espectador, desta forma, ao mesmo tempo dentro do quarto, na pintura, e fora do quarto, na paisagem real. Que é como nós vemos o mundo: nós vemo-lo como existindo fora de nós próprios, mesmo que o que nós sentimos dentro de nós seja apenas uma sua representação mental.”

René Magritte, A Condição Humana

Saberemos qual a diferença entre a ilusão e a realidade? O mundo que construimos dentro de nós será o mesmo que vemos? E, sendo-o, será real, apenas porque o vemos como tal? 

quarta-feira, maio 14, 2014

Pássaro

Havia nela uma estranha leveza no andar, um desenho a pastel em cada gesto, a sombra de umas asas a aflorar-lhe os ombros.

Flor

(Marielliott)

Quando foram usadas todas as palavras, esgrimidos todos os argumentos, esgotados todos os artifícios, há sempre a terra e, nela, uma flor.

terça-feira, maio 13, 2014

Adjectivo agudo

(Botero)

tos·ca
adjectivo

1. Tal como a natureza a produziu.

2. Que não é lapidada nem polida.

3. Rústica; grosseira.

4. Malfeita.

5. Inculta.

6. Rude.

substantivo feminino

7. parte mais grosseira de uma construção.


em tosco

• Em bruto.


"tosca", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/tosca [consultado em 12-05-2014]


 
Tosca. Tantas vezes.

domingo, maio 11, 2014

A doce espera

(Almada Negreiros - Colombina e Pierrot)
2.     A SÉSTA
Pierrot escondido por entre o amarello dos gyrassois espreita em cautela o somno d'ella dormindo na sombra da tangerineira. E ella não dorme, espreita tambem de olhos descidos, mentindo o sôno, as vestes brancas do Pierrot gatinhando silencios por entre o amarelo dos gyrassois. E porque Elle se vem chegando perto, Ella mente ainda mais o sôno a mal-resonar.
Junto d'Ella, não teve mão em si e foi descer-lhe um beijo mudo na negra meia aberta arejando o pé pequenino. Depois os joelhos redondos e lizos, e já se debruçava por sobre os joelhos, a beijar-lhe o ventre descomposto, quando Ella acordou cançada de tanto sôno fingir.
E Elle ameaça fugida, e Ella furta-lhe a fuga nos braços nús estendidos.
E Ella, magoada dos remorsos de Pierrot, acaricia-lhe a fronte num grande perdão. E, feitas as pazes, ficou combinado que Ella dormisse outra vez.
Almada Negreiros,  in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'

Até quando, o doce engano? Até quando, o dormir de olhos semicerrados, na espera do beijo que sabe será certo?

Deita-te a meu lado

(Pablo Picasso)

Deita-te a meu lado
Deixa que decifre os teu segredos
entre beijos incendiários
Esqueçamos todos os medos
Lamba-se. Morda-se. Arranhe-se.
Rasgue-se. Crave-se. Grite-se.
Que nada reste de nós senão as rugas nos lençóis. 

(Maria Eu)

 

sábado, maio 10, 2014

A palavra

    Pode a palavra proferida espantar a própria boca que a profere? Dizer é, já, fazer.Não dizer é morrer.

  (Edward Hopper)
   Could mortal lip divine
The undeveloped Freight
Of a delivered syllable
‘Twould crumble with the weight.
     Emily Dickinson


Se o lábio hábil a sílaba
Soubesse sopesar,
Poderia, surpreso,
Ruir sob seu peso.

   ((Tradução de Augusto de Campos)

quinta-feira, maio 08, 2014

Mãos



 (Leonardo da Vinci - Detalhe de Mona Lisa, mãos)

As mãos lindas que vi deixaram-me absorto:
compridos dedos, polegares de espátula,
um dedilhar de flores  em jardins ociosos,
só comparável a conversa amena
de duas mulheres simples debruçadas
sobre o tampo liso de uma mesa.
 

A riqueza da vida reside nisto:
um leve toque no ombro do próximo...
uma cortina de chuva vedando a verdade
olhos indiferentes, indiscretos...
e um ar de encanto, um fácil soluço
ouvido longe, como que em segredo.

Ruy Cinatti



 

Há nas mãos toda uma linguagem.
Tranquilas ou inquietas, meigas ou rudes, objecto e fonte de toque(s).
Desejam-se umas mãos que saibam a nossa geografia. 
Deseja-se termos mãos que saibam outra(s) geografias.

terça-feira, maio 06, 2014

Quase posso ver-te

  (Oleg Zhivetin)

"-Tenho saudades de te tocar!" disse-lhe.
"-Mas tu estás a tocar-me!" respondeu-lhe.
"-Como, se estou tão longe de ti?" questionou.
"-Tocas-me com a alma!" retorquiu.

segunda-feira, maio 05, 2014

Como matar pardais





 (Cândido Portinari - espantalhos)

Vieram até mim em busca de como matar pardais, como se alguma vez eu soubesse, ou pudesse matar pardais! Fosse de palha e seria espantalho de campo de milho, não para afugentá-los mas para que viessem pousar-me nos ombros e chilrear-me aos ouvidos as suas histórias de voos...

domingo, maio 04, 2014

Post cliché em dia cliché



 (Bryce Liston - Mother and daughter)

Custa-me que te tivesses calado à rudeza da tua mãe, acabrunhado perante a bazófia dos teus irmãos, submetido ao comando do teu marido. Talvez pudesses falar-me mais das coisas da vida se a tivesses... Falei-te eu delas. Espantaste-te, sorriste, choraste e chamaste-me doida algumas vezes. Tu, a minha mãe-filha, menina grande de olhar curioso a quem nunca deixaram crescer.


 

sábado, maio 03, 2014

Deixem-nos "ser"

(Paul Klee - Carnival Village)

Space Aliens Found Performing In Carnival 
Freak Shows 

In 1920, my great-aunt Jane
hopped a midnight freight
and ran away from home
to sing on a New York stage.
She was only sixteen.


The family took her photograph
off the grand piano
and never again spoke her name.
Later, they grew lonely for her voice.


At sixteen I shimmied down
the same drainpipe Jane had used
and took off to see the fair.


That's where I met
the light-bulb boy from Neptune,
the lizard-woman of the Moon,
the human razor blade from some galactic swirl
and other artists of the weird.


All of them had hopped
midnight rockets off their worlds.

All artists come from outer space.


Like my great-aunt Jane,
they're just looking for some place
where gravity won't hold them down.


So parents– let your children
have their voices. Let them
have their feathers and their flesh.
Let your daughters and your sons
have their pens, their paints,
their music and their hearts.


Let them tattoo jackals on their thighs
and dance with the lawn furniture.
Let them drum so loud that the sound
shatters watermelons in your garden.


Ask them to play on,
because these children come from Mars.
Tell them they're welcome here on earth.
Tell them it's good to be strange.
Tell them they don't need to hop that freight.


Douglas Gray (roubado daqui)


Alienígenas encontrados a actuar em espectáculos circenses de aberrações 

Em 1920, a minha tia-avó Jane 
apanhou o comboio de mercadorias 
e fugiu de casa para cantar 
num palco em Nova Iorque. 

Tinha apenas dezasseis anos. 
A família retirou a fotografia dela de cima do piano de cauda 
e o seu nome nunca mais foi pronunciado. 
Mais tarde, sentiram a falta da voz dela. 

Aos dezasseis anos eu deslizava 
pelo mesmo caleiro que Jane usara 
e escapava-me para ver o arraial. 

Foi lá que encontrei 
o rapaz-lâmpada de Neptuno 
a mulher-lagarto da Lua 
a lâmina de barbear humana de uma qualquer espiral galáctica 
e outros artistas do fantástico. 
Todos tinham apanhado o foguete da meia-noite para fora do seu mundo. 

Todos os artistas vêm do espaço 
como a minha tia-avó Jane, 
apenas procuram um lugar onde a gravidade não os prenda. 

Por isso, pais, deixem os vossos filhos 
ter voz própria. Deixem-nos 
ter as suas próprias penas, a sua própria carne. 
Deixem a vossas filhas e os vossos filhos 
ter as suas próprias canetas, as suas próprias tintas, 
a sua própria música e os seus próprios corações. 

Deixem-nos tatuar chacais nas coxas 
e dançar com a mobília do jardim. 
Deixem-nos tocar bateria tão alto que o som 
faça explodir os melões do vosso quintal. 

Peçam-lhes para continuarem a brincar, 
porque estas crianças são de Marte.
Digam-lhes que são benvindas à Terra. 
Digam-lhes que é bom ser estranho.
Digam-lhes que não precisam de apanhar esse comboio. 

Douglas Gray traduzido por Maria Eu


sexta-feira, maio 02, 2014

A doce chama

Nenhuma morte apagará os beijos

Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas
                                           [clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.

Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida
                                                            [e atormentada

desvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível.


Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'



(Marc Chagall)

A doce chama que em meu peito arde
 ilumina de tal forma a minha alma 
que ao longe a vêem todos quantos amam.

 

quinta-feira, maio 01, 2014

Vozes de mulheres

 (John Sloan - a woman's work)

Lembro-me de, nas tardes longas de Verão da minha aldeia, ver as mulheres de joelhos, debruçadas sobre pedras meio imersas nas águas correntes do rio, esfregando, virando, batendo roupa com vigor. Havia um ritual nessa ida ao rio. Levavam-se as bacias cheias à cabeça e um pedaço de sabão rosa no bolso. As crianças seguiam as mães em revoada, como pardais chilreantes, e havia as conversas que se calavam em casa."O meu Zé atirou-me o prato da sopa à cara, outro dia..." "A Joaquina da Mariana anda com o menino João da casa grande.." "Quem me dera fugir desta miséria." "Mandava era esta roupa toda rio abaixo." "O Quim dorme noutra cama e, quando me quer usar, chama por mim aos gritos. Levo os filhos pela mão mas ele manda-os sair e fecha a porta à chave. Aleija-me sempre, o Quim..." "Tenho oito filhos e nunca vi o meu homem nú." 

No fim, havia estendais cheios e as mulheres, de mãos enrugadas pela água, recolhiam os pedaços de sabão rosa que sobrassem, tal como recolhiam as palavras, de regresso a casa.


Beijo



(Clavé Togores)

Beso

Qué sola estabas por dentro!

Cuando me asomé a tus labios
un rojo túnel de sangre,
oscuro y triste, se hundía
hasta el final de tu alma.

Cuando penetró mi beso,
su calor y su luz daban
temblores y sobresaltos
a tu carne sorprendida.

Desde entonces los caminos
que conducen a tu alma
no quieres que estén desiertos.

Cuántas flechas, peces, pájaros,
cuántas caricias y besos!


Manuel Altolaguirre


Tão só ficará por dentro, quando não houver mais beijos. Por isso, faz do momento uma festa dos sentidos, música, cor, muito sol, intensidade e gemidos.