Naquele tempo, aos homens bons era dado o dom de poderem ter asas. Era, pois, comum, verem-se homens alados em passeio pelas avenidas, nas salas de cinema (onde, note-se, tornavam a visão dos demais deveras difícil), nos supermercados, enfim, em todos os lugares.
Tudo parecia maravilhoso. Aqueles a quem cresciam asas resplandeciam, orgulhosos do atributo, e os que as não tinham procuravam comportar-se de maneira a atingirem a forma alada.
Não tardou, porém, que muitos se cansassem da monotonia das asas, todas tão brancas e, sobretudo, todas iguais. Começaram a pintá-las de cores diversas, a ornamentá-las com jóias e bordados, mal disfarçando os olhares de admiração e inveja quando algumas brilhavam mais ao sol, ou se destacavam pela originalidade.
Pior do que essa ânsia de terem asas diferentes e melhores do que as dos outros, era o facto de já ninguém saber quais os critérios para que alguém pudesse tê-las. Tantas havia que chegava a ser difícil andar na rua em determinadas horas.
Numa manhã fria de Fevereiro, a cidade acordou com a frase "Não às asas contrafeitas!" pintada por todos os muros. Nas caixas de correio, desabituadas de terem uso, um panfleto alertava para o logro do negócio das asas. Os homens bons, afinal, podiam nunca ter umas, enquanto outros, espertalhaços, conseguiam um par falsificado e se pavoneavam do alto da sua moral de pechisbeque.
Chapéus há muitos... lá dizia o Vasco Santana no meio das *feras* do Zológico... E cabeças também, lá isso é verdade.
ResponderEliminarSe não tapa a cabeça, não é chapéu.
EliminarBeijinhos, Maria, e obrigada pela visita. :)
Jim Morrison dizia que death gives us wings.
ResponderEliminarAqui é mais life gives us wings.
Gosto mais desta versão.
Boa semana
Or no wings at all.
EliminarBeijinhos, Pedro :)
O Igual, aborrece-me. Será sempre o desigual a garantir-me voos.
ResponderEliminarDepende do desigual... Tem que ser especial.
EliminarBeijinhos, Eros :)
Belo texto. Adorei ler.
ResponderEliminarHoje:- {poetizando e encantando} Arrepios de um luar encantado
.
Bjos
Votos de uma óptima Segunda-Feira
Muito obrigada, Larissa!
EliminarBeijos :)
Se só tivessem asas os que as mereciam, haveria muitas asas contrafeitas por aí. Gostei da originalidade do texto.
ResponderEliminarUma boa semana.
Beijos.
É como as condecorações...
EliminarBeijinhos, Graça, e obrigada! :)
Your music usually intoxicates me.
ResponderEliminarEspecially today's . . . I love Niklas Paschburg.
Grateful, and distracted, as usual.
xoxo
Thank you, Rick!
EliminarKisses :)
Bela metáfora...
ResponderEliminarPor mim, tenho guardadas mil penas me dadas por Dédalo.
Sabendo como construir as asas, só me falta aprender a voar
sem correr os riscos de Ícaro
mas voarei, se tal for preciso
Mas tu já tens asas. As do sonho pelo qual velas!
EliminarBeijinhos, Rogério :)
As asas invisíveis aos materialistas são infalsificáveis. beijos
ResponderEliminarhttps://ives-minhasideias.blogspot.com.br/
E são essas que fazem voar.
EliminarBeijinhos, Ives :)
Ícaro, segundo a mitologia grega, construiu asas artificiais a partir da cera do mel de abelhas e penas de gaivota para fugir do labirinto do Minotauro e, tomado pelo desejo de voar próximo ao Sol, viu suas asas derreterem, caindo para morte.
ResponderEliminarÉ o que acontece, com quem insiste em voar com asas falsas.
Bom dia, Maria:))
Falsificar asas não me parece sensato.
EliminarBeijinhos, Legionário :)
sempre acreditei que há pessoas com asas, só que as deixam em casa, penduradas com os casacos é que deixaram de usar.
ResponderEliminaré raro encontrar quem escreva como tu, Tu Tu!
Concordo, Manel! Usam-nas durante a noite, em segredo.
EliminarObrigada!
Beijocas, Stormy boy :)
Obrigada pela visita.
ResponderEliminarSempre me perguntei por que não nasci com asas... Tenho pouco de anjo e de "bom homem". apesar de ser um homem bom. Todo bom. Bom texto. ;)
ResponderEliminarUm Patife com asas? Jasus! Miúdas, cuidem-se que agora o perigo vem do céu! :D
EliminarObrigada, caro Patife! :)
Agendado para amanhã tenho mais um boneco com asas. As asas e os voadores são um tema recorrente do meu imaginário. E lembro-me sempre do Magritte e este teu texto lembrou-me da "Saudade" do Magritte e lembrou-me o Wim Wenders.
ResponderEliminarA música na corrente da que usaste para ilustrar a tua publicação também vale ser ouvida: Timewrap - Smoke Miash Tem qualquer coisa de procissão com crianças vestidas de anjinho e a banda a tocar, no início parece que se ouve uma galinha a sair de um quinteiro, passarinhos um cão, e volta-se a ouvir mais para o fim a galinha com a banda a despedir-se na distância.
Não ligues se não comento tudo o que escreves como deveria. Beijinhos!
Caro Luís, tu comentas tão bem que os teus comentários são melhores do que os meus textos!
EliminarWim Wenders vem-nos sempre à memória quando há homens com asas, não é?
Vou ouvir a música que sugeres. A descrição é uma delícia!
Beijinhos :)
Espero que às mulheres também tenha sido dada divina graça, asas nas mãos, por exemplo, para escreverem sobre as asas dos homens ;)
ResponderEliminarUm beijo, Maria poesia
Mas as mulheres são seres alados, não sabias? :)
EliminarBeijos, menina-flor :)