quarta-feira, janeiro 27, 2016

Rendição

(Graça Morais)


A besta entrou, circundou-a, farejando-lhe o medo. Saltou-lhe ao pescoço, mordeu-lhe o ombro esquerdo e rugiu, a boca sangrando das feridas fundas. Deixava-se ficar, inerte, debaixo das patas fortes, cega à feiura do corpo hirsuto, surda à agudeza dos rugidos.

Há muito que deixara de lutar contra a saudade.


11 comentários:

  1. Parece ter sido o quadro
    produzido
    para teu texto ilustrar

    e não sei qual o mais expressivo

    (e agora um aparte
    don´t give up)

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    1. O texto foi escrito para o quadro e não o oposto. Acontece-me muitas vezes ser despertada por uma imagem.

      Beijinhos, Rogério, e obrigada. :)

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  2. A saudade por vezes passa a ser uma constante, como se fosse um prolongamento de nós. Não nós conhecemos sem a ela.

    As tuas palavras são a perfeita legenda.

    Beijinhos Tutu :)

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    1. Parva, a saudade! Às vezes não deslarga, raios!

      Beijos, Snowy :)

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  3. Essa é uma besta terrível.
    E tão portuguesa!

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  4. Gosto de ver aqui a Graça Morais.
    Acho que essa besta é da família da solidão.

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  5. Por vezes...quando nossas esperanças fogem da realidade, e nós finalmente temos que nos render à verdade, isso só significa que perdemos a batalha de hoje. Não a guerra de amanhã.

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    1. A vida sem guerras seria um pouco insípida.

      Beijos, Legionário :)

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  6. Espreitei acima que o quadro da Graça Morais foi o gatilho. Pelo cano saiu a bala.
    Andam faunos na serra?
    Há uma palavra tramada mesmo no final do texto. A última: saudade.
    Com ela, imaginemos como era antes do medo.

    Bj

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