O calor abrasava, por aqueles dias, na aldeia. Mariana brincara o dia inteiro em correrias pelos campos e gargalhadas partilhadas com a criançada da vizinhança. Nunca se apressava no regresso a casa. Costumava ir espreitar os animais, vacas, porcos, galinhas, coelhos e, claro os seis cães que tanto acompanhavam o pai nas caçadas como a rodeavam a pedir mimo.
Foi ao chegar às pocilgas que percebeu algo de estranho. A porca maior, que tinha acabado de parir dez porquinhos (ainda de manhã os tinha visto em esfomeada pose a mamar na mãe, deitada no chão, meiga que só visto) estava a ser encaminhada para uma carrinha de caixa aberta onde já estavam os outros porcos da exploração agrícola. Viu a expressão do pai, fechada e tensa.
- Vai para casa, menina! A tua mãe já deve estar ralada! Já viste as horas?
Em casa, o jantar decorreu em silêncio, à excepção dos suspiros da mãe que, a cada passo, punham o pai a olhá-la com um ar de censura.
- Mãe, o que tens?
- Nada, filha! Só estou cansada! Vamos para a cama cedo, sim?
Deitada, percebia uma agitação que não se confinava aos de casa. A aldeia fazia eco de vozes e guinchos a assemelharem-se aos contos de terror que o primo Zé costumava contar nas noites longas de Verão. Levantou-se, a medo, e assomou à janela. Não muito longe, o céu iluminava-se à luz de fogueiras e o ruído intensificava-se com as vidraças abertas. O ar estava irrespirável com um cheiro acre.
De manhã, soube que todos os porcos da aldeia tinham sido levados para um campo abandonado e mortos, um a um, com uma pistola especial, diziam, para depois serem queimados e enterrados.
- Mãe! Mãe! E os porquinhos, mãe?
- Tinha que ser, filha, era a peste!
- Nunca mais perdoo o pai! Nunca mais!
Mariana ainda não sabia o significado de "perdoar".
Mariana ainda não sabia o significado de "perdoar".
Mariana pode ter aprendido o significado de perdoar, mas não de esquecer, resumindo Mariana cresceu...
ResponderEliminarAbreijo Maria Tu
Bom fim de semana
Cresceu, é isso.
EliminarBeijos, noname. :)
Para perdoar é preciso compreender o outro e as suas circunstâncias. E há "maldades" que só podem ser entendidas mais tarde, à luz da experiência e maturidade. Muitos de nós só compreendemos certas atitudes dos nossos pais quando nos tornamos pais. Gostei de conhecer a Mariana e a sua inocência.
ResponderEliminarUm beijinho e bom fim de semana, Maria
Uma Mariana igual a muitas meninas de aldeia que não compreendiam a morte dos animais. Nem por doença, nem para servir á mesa. :)
EliminarCertamente cresceu e compreendeu, perdoando.
Beijos, Miss Smile. :)
Perdoar é, quanto a mim, uma das mais belas capacidades humanas. E não é muito comum de encontrar. Mas, como diz a nossa querida Miss Smile, é preciso primeiro atingir uma certa maturidade, isso sem dúvida que sim.
ResponderEliminarUm beijinho, Maria, e um bom fim de semana.
Perdoar é, sim, uma excelente capacidade que o crescimento interior nos facilita.
EliminarBeijos, Susana, e uma boa semana. :)
Pois ela aprendeu parte do termo "perdoar".
ResponderEliminarEla aprendeu a não se esquecer....Interessante como o "perdoar" e o "esquecer" andam juntos....
Pode-se perdoar. Mas não se consegue esquecer....Já o esquecer supõe o perdão!!!!!
Mesmo que não se esqueça, pode-se perdoar. O perdão deixa as marcas mais suaves.
EliminarBeijinhos, PDR. :)
Era a peste, um dos 4 Cavaleiros de Apocalipse ;)
ResponderEliminarPerdoar o Quê?
Um beijo, Maria.
Não tenho vindo aqui tantas vezes
como desejaria. Tenho tido
outros afazeres. :)
Para um adulto, parece coisa pouca matar os porcos doentes. Para uma menina, assemelhava-se a um crime contra a vida.
EliminarObrigada pelas tuas palavras, Tristan. Espero que esses afazeres sejam "dos bons"! :)
Beijinhos. :)
Olá, Maria, venho guiada pelos Jardins de Afrodite, tentava descobrir que tipo de música seria a tua mas encantei-me com este post e fiquei.
ResponderEliminarxx
Olá, papoila!
EliminarFico contente que mais uma amiga da Afrodite venha e fique. Os amigos dos meus amigos são sempre bem-vindos! :)
Beijinhos.
O perdão é um ato de desenvoltura moral que se vai aprimorando com a idade. Embora, às vezes, não se perceba por que razão o fazemos.
ResponderEliminarBom fim de semana, Maria Eu.
Um beijo,
Mia
Sem dúvida, Mia.
EliminarBeijinhos. :)
Isto levou-me a pensar naquele "princípio" que alguns defendem e que afirma que o perdão implica esquecer o que nos magoou. Não concordo nada com isso.
ResponderEliminarE julgo que se funcionarmos muito com base na empatia é relativamente fácil perdoar.
Bom domingo, Maria.
Também não julgo que perdoar signifique esquecer. Perdoar significa ser capaz de ver com outros olhos.
EliminarBeijos, Isabel, e boa semana. :)
Saberá
ResponderEliminarTodos um dia acabamos por saber
Uns usarão o perdão
outros nunca perdoarão
Eu procuro perdoar
umas vezes sim, outras não
(e é muito mais difícil a compreensão do contexto e apreender o conceito de justiça)
Muito difícil, a aprendizagem das coisas da vida.
EliminarBeijinhos, Rogério. :)
Quando se perdoa, de forma alguma muda o passado, mas com certeza muda o futuro.
ResponderEliminarBoa semana Maria!:)
E o presente, Legionário. O futuro começa aí.
EliminarBeijinhos e boa semana. :)
Não sei se perdoar se aprende, mas aprende-se com certeza a compreender e a arrumar certas coisas no cantinho do esquecimento ou quanto mais não seja, no cantinho dos assuntos arrumados. Sim, isso vem com o tempo ou então é um dom. Beijinhos
ResponderEliminarÉ superior aquele que sabe perdoar e seguir em frente.
EliminarBeijinhos, GM. :)
Deliciosa história para memória futura
ResponderEliminartanta gente que não sabe nem sonha
o carinho e a violência à nossa beira
e o perdão e o ter de ser
a impressão de haver
incompreensão
num tempo de crescer.
Ontem assim
hoje sem fim
Bj
Somos o que somos construídos de memórias.
ResponderEliminarBeijinhos, Agostinho, e obrigada. :)