A modorra da tarde quente
instalara-se na casa e nela. Gotículas de suor perlavam-lhe o corpo semi-desnudo,
na penumbra do quarto. Os lençóis brancos realçavam-lhe os contornos do corpo,
deixando perceber alguma flacidez muscular, denotando a idade. Havia algum
tempo que aquela cama lhe servia de refúgio nos Verões, cortinados corridos e
portas abertas em corrente de ar. Se o corpo aparentava calma, por dentro, era
um turbilhão! Anos felizes eram como um filme nas paredes brancas pouco
iluminadas, à semelhança dos que eram projectados no passado, em tela
portátil, nos longos serões familiares. As gargalhadas dos primos e amigos
sazonais, o cheiro intenso do bolo de canela acabado de sair do forno e do
licor de leite a fermentar na sala, as cantorias com a mãe durante os
preparativos do jantar e o olhar ternurento do pai quando achava que as “suas
meninas” estavam mais desatentas.
Chegam-lhe as gargalhadas das meninas e meninos, herdeiros dos tempos felizes. O relógio da torre da igreja bate 6 vezes. É hora de se levantar e juntar mais memórias doces, com novos personagens.