sábado, agosto 12, 2017

13 para o almoço

(Henri Matisse)

Da cozinha, evolava-se um aroma a carne assada com alecrim, à mistura com o da torta de cenoura acabada de desenformar. A voz alegre de Vó Nita cantarolava:

"Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua

Sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela
com o teu cabelo à lua
menina estás à janela

(...)"

Faltava pouco para a hora de almoço e, na mesa da cozinha grande, já luzia a toalha de bordado azul e vermelho à Vianesa, com os pratos do serviço de festa, os talheres de alpaca e os copos a brilharem de tão limpos. Seriam 13. Alguns diriam que 13 não seria número de comensais a sentar a uma mesa, mas Vó Nita nunca se deixara levar por superstições. Nascera-lhe mais uma bisneta em Abril. Logo em Abril, o seu mês! Havia de ser levada, essa menina, pela certa. Touro! Apaixonada, com sangue quente, teimosa e lutadora. Como ela! Sorriu, enquanto ajeitava a cadeirinha no topo da mesa. Qual azar, qual quê, se o número 13 era a sua Mariana.



19 comentários:

  1. Ah Matisse. I love his eye, his bold colors.
    And thanks for introducing me to Rio Grande.
    Beautiful harmonies.
    Have a great weekend. Enjoy.
    xoxo

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    1. Matisse always makes me see things with the enchanted eyes of a child.
      Rio Grande is very "portuguese"! :)

      Kisses. Rick, and thanks for your kind words!

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  2. Há quem leve muito a sério esta coisa de 13 à mesa... Eu estou com a Vó Nita, não ligo nada a essa superstição. :)
    Este post cheira mesmo bem... :))

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    1. Eu gosto é de gente boa à minha volta. O resto não importa!

      Beijos, Luísa :)

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  3. Embora eu também esteja com a Vó Nita (pois também não ligo nada a isso), à priori evitar as superstições é uma outra superstição...

    Boa semana Maria:))

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  4. 13 é um número de sorte aqui em Macau.
    Já o 14 é que é de fugir (sap sei, um som muito semelhante a morte certa).
    Boa semana

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  5. Passando para te fazer uma visita e uma boa leitura. AbraçO

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  6. Que sorte, Maria, uma menina 13 com a proteção dos astros. A vovó bem se pode orgulhar.
    E tu, idem, com estas prosas que tanto aprecio.
    Bjs.

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    1. Os números são sempre bons quando são mais do isso, são pessoas do nosso coração. :)

      Muito obrigada, Agostinho!

      Beijinhos :)

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  7. Não tenho coragem de dizer que não tenha uma ponta de superstição.
    A bela mensagem (carregada de gente feliz, sabores e aromas), ajuda à libertação do espírito de eventual preconceito que possa estar na base das superstições.
    Grande avó!... Há muito que perdi a minha, as minhas!

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    1. As memórias das avós ficam-nos sempre à flor da pele, principalmente nos momentos de reencontro familiar, não é?

      Beijinhos, Petrus, e obrigada pelas gentis palavras. :)

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  8. Às vezes sou supersticioso, mas não é como número 13. Gostei Maria !

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    1. Eu não ligo nada a superstições. :)

      Obrigada, Ricardo!

      Beijinhos :)

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  9. A avó Nita é uma sábia...
    Gostei muito do texto e de ouvir a Menina estás à Janela por Rio Grande.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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    1. A idade traz sabedoria, não achas? :)

      Beijo e obrigada, Graça. :)

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  10. Creio que, a partir de um momento (não queria dizer "com a velhice", que pode apontar para o depreciativo), com o passar dos anos, vamos-nos permitindo relativizar e simplificar o que fomos complicando e tornando como absoluto, ou como que dogmático.
    Muito bom!
    [Eu fico envolvido nas tuas histórias e só sei dizer que gosto, de várias formas, porque, gosto mesmo.]
    beijinho

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